Por Ney Anderson
Em homenagem aos 10 anos do Angústia Criadora, escritores de todo o país falaram com exclusividade ao site sobre literatura, processo criativo, a importância da escrita ficcional para o mundo e para a vida e diversos outros assuntos. Leia a entrevista a seguir com o convidado de hoje. Divulgue nas suas redes sociais. Acompanhe o Angústia Criadora também no Instagram: @angustiacriadora e Facebook: https://facebook.com/AngustiaCriadora
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Aline Bei – Aline Bei nasceu em São Paulo, em 1987. É formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e em Artes Cênicas pelo Teatro Escola Célia-Helena. Foi colunista do site cultural Livre Opinião – Ideias em debate, editora chefe do site cultural OitavaArte e escritora convidada na Primavera Literária; Sorbonne Université, França 2018. Também em 2018 participou da Feira Internacional de Guadalajara. O peso do pássaro morto, finalista do prêmio Rio de Literatura e vencedor do prêmio São Paulo de Literatura e do prêmio Toca, é o seu primeiro livro. Será traduzido para o francês em 2021. Ainda em 2021, lançará seu segundo livro Pequena Coreografia do Adeus pela Companhia das Letras.
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O que é literatura?
um Lugar
onde as palavras se encontram
em estado de
Desassossego.
O que é escrever ficção?
é encontrar um jeito (Belo) de dizer a verdade.
Vocação, talento, carma, destino…..o escritor é um predestinado a carregar adjetivos que tentam justificar o ofício?
vivemos em um mundo que se apoia nos adjetivos.
o importante é que o escritor mergulhe
no próprio mundo
e traga
de lá
essa pedra
estranha e bruta
que é o Texto.
Qual o melhor aliado do escritor?
o Tempo.
E qual o maior inimigo?
a vaidade.
Escrever é um ato político? Por qual motivo?
dar voz ao íntimo e de alguma forma trazê-lo para o Coletivo é sempre político.

Quais os aspectos que você leva em conta no momento que começa a escrever?
estou sempre escrevendo, mesmo quando não estou. um texto se escreve com o Corpo, antes da palavra no papel. então
não há qualquer aspecto,
escrever é quem eu sou.
A literatura existe para entendermos o começo, o meio ou fim?
a literatura existe para reverenciar o Mistério.
Se escreve para buscar respostas ou para estimular as dúvidas?
olhe qualquer resposta
bem de perto: há uma pinta
no queixo
de todas, a pinta
da Dúvida.
Criar é tatear no escuro das incertezas?
criar é ser guiado por uma força interna luminosa.
Cite um trecho de alguma obra que te marcou profundamente.
“Amor que serena, termina?”
(titulo de um poema do Juan Gelman)
É possível recriar o silêncio com as palavras? Como?
no meu processo criativo, o Silêncio está na folha
não na palavra.
Você acredita que qualquer pessoa pode escrever uma história? Mas, então, o que vai fazer dela escritora, de fato?
Claro. o Desejo.
É preciso saber olhar o mundo com os olhos da ficção? O mundo fica melhor ou pior a partir dessa observação?
É preciso olhar o mundo com os seus próprios olhos, seja ele como for.
Todo texto ficcional, mesmo os mais extensos, acaba sendo apenas um trecho ou fragmento da história geral? Digo, a ficção lança o seu olhar para as esquinas das situações, sendo praticamente impossível se ter uma noção do todo?
O particular é universal. a esquina é o mundo. o segredo, pra mim, está na Profundidade, não na largura.
Nesse sentido, uma história nunca tem início, meio e fim?
Nunca. a gente escolhe começar & parar em algum ponto.
mas é sempre um recorte.
Você escolhe os seus temas ou é escolhida por eles?
Eu escolho.
É necessário buscar formas de expressão cada vez menos sujeitas ao cânone, desafiando a língua, tornando-a mais “suja”, para se aproximar cada vez mais da verossimilhança que a história pede? Ou seja, escrever cada vez “pior”, longe da superficialidade de escrever “certinho”, como disse Cortázar, talvez na tentativa de fugir da armadilha do estilo único?
a única coisa necessária ao escritor é Ler
e escrever.
o “como”
ele inaugura, a cada texto
de acordo com as suas limitações e potências.
Quando é que um escritor atinge a maturidade?
Quando ele está profundamente conectado com o seu material íntimo.
O leitor torna-se cúmplice do escritor em qual momento?
Desde o momento em que ele coloca os olhos
no Livro, depois
as Mãos.
Apenas um livro para livrá-lo do fim do mundo em uma espaçonave. O seu livro inesquecível. Qual seria?
A insustentável Leveza do Ser
Qual a sua angústia criadora?
a Morte.
(será que há escrita do lado de lá?)