Por Ney Anderson

Décimo segundo romance policial do escritor Luiz Alfredo Garcia-Roza, A última mulher (Companhia das Letras) é sem dúvida um dos livros mais violentos de toda a produção do autor e também o de enredo mais enxuto. A história central é sobre a relação do cafetão Ratto, que agencia algumas prostitutas na Lapa, no Rio de Janeiro, e ganha bastante dinheiro com essa atividade, em parceria com Japa, e Rita, garota de programa e protegida dele. Depois de ser ameaçado por um policial truculento que quer pegar o seu dinheiro, Ratto e o sócio desaparecem, deixando Rita sozinha. A partir daí algumas mulheres do grupo do cafetão começam a ser brutalmente assinadas, fazendo da protegida do cafetão um dos próximos alvos.

É aí que o famoso delegado Espinosa entra em ação procurado por Rita, porque ele é antigo conhecido de Ratto, para tentar desvendar o passo seguinte do assassino e também protegê-la, já que se encontra totalmente vulnerável. O livro utiliza de alguns poucos personagens em busca dessas respostas: quem é o assassino e onde estão os dois sócios? Garcia-Roza criou um núcleo fechado, com elementos surpresa. Muito próprio do estilo policial, centrado nessas dúvidas.

Copacabana e os bairros vizinhos são vistos por ângulos diferentes, apressados, na mesma medida da busca de Rita pelo cafetão. Ela se movimenta pela cidade à procura do patrão e do sócio dele. E percorre os labirintos por onde acha que o homem passou, incluindo hotéis baratos, possíveis endereços, estações de metrô, cruzando com figuras do submundo carioca. É o olhar da personagem que movimenta as cenas, embora seja narrado em terceira pessoa.

Espinosa, homem refinado e culto, morador do bairro do Peixoto, leitor voraz, que encanta leitores desde o seu surgimento em 1996 no premiado “O silêncio da chuva”, está, digamos, mais calmo nessa trama. Reflexivo e pensando em diminuir o ritmo. Dando claras pistas da inevitável aposentadoria, principalmente por já estar com sessenta anos. Ele ainda é bon vivant, gosta de comidas e vinhos de qualidade e tem um relacionamento amoroso tranquilo. Espinosa não é o tipo de policial gênio. Ele se aproxima mais do real e tem que lidar neste novo romance com horríveis crimes praticados por um policial truculento. Assim como em outros livros, o inspetor Ramiro e o detetive Welber trabalham com o delegado.

A última mulher é um texto com muita ação, de ritmo intenso, com diálogos precisos que escondem mais do que revelam. O romance é narrado em fluxo contínuo, sem cortes ou mudanças radicais no tempo narrativo. Uma prosa de estilo moderno, com a história sendo entregue aos poucos. Os pontos de vista dos personagens, incluindo o próprio assassino, se cruzam conforme o livro avança. Tudo é feito através de uma técnica requintada que não perde nunca o vigor.

A última mulher tem uma prosa muito visual e movimentada. É possível “ver” o Rio de Janeiro descrito de maneira tão particular. A cidade, o recorte que o autor faz dela, é também um personagem.

Neste romance, Luiz Alfredo entrega uma boa história, com enredo rápido e sacadas interessantes. Como, por exemplo, o fato do personagem Ratto, fazendo jus ao nome, não deixar rastros. Não é o melhor trabalho do autor, mas é o mais direto na proposta. O texto é muito bem amarrado, com as cordas sendo soltas aos poucos, na medida exata para a trama não perder o elemento surpresa.

Aparentemente se lê um texto policial simples, sem grandes dilemas ou subtramas, mas é justamente isso o grande trunfo da obra e do escritor que domina o seu ofício como ninguém. Ao achar que está olhando para o lado lógico, o certo, o leitor é surpreendido. Mas aí já é tarde.

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