Por Ney Anderson

Em homenagem aos 10 anos do Angústia Criadora, escritores de todo o país falaram com exclusividade ao site sobre literatura, processo criativo, a importância da escrita ficcional para o mundo e para a vida e diversos outros assuntos. Leia a entrevista a seguir com o convidado de hoje. Divulgue nas suas redes sociais. Acompanhe o Angústia Criadora também no Instagram: @angustiacriadora e Facebook: https://facebook.com/AngustiaCriadora

 

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Henrique Rodrigues nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 1975. Formou-se em Letras pela Uerj, cursou especialização em Jornalismo Cultural, também na Uerj, mestrado e doutorado em Literatura na Puc-Rio. Trabalha no Sesc Nacional, como analista em literatura, coordenando projetos de incentivo à leitura e circulação de manifestações literárias, como o Prêmio Sesc de Literatura e o Arte da Palavra – Rede Sesc de Leituras. De frente para trás, já foi coordenador pedagógico do programa Oi Kabum! Escola de Arte e Tecnologia, superintendente pedagógico da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, pesquisador da Cátedra Unesco de Leitura da PUC-Rio, professor de literatura, balconista de videolocadora e atendente de lanchonete.

Já palestrou em universidades e eventos culturais no Reino Unido, França, Portugal, Espanha e Bélgica. Em 2019 participou da residência artística do Cine Luso, em Bruxelas, coordenando a criação de um filme sobre meio ambiente. É cronista do jornal Rascunho e colunista e do portal PublishNews.

É autor do livro de poemas A musa diluída (Record, 2006), Versos para um Rio Antigo (infantil, Pinakotheke, 2007), Machado de Assis: o Rio de Janeiro de seus personagens (juvenil, Pinakotheke, 2008), O segredo da gravata mágica e O segredo da bolsa mágica (infantil, ambos pela Memória Visual, 2009) e Sofia e o dente de leite (infantil, Memória Visual, 2011), Alho por alho, dente por dente (com André Moura; infantil, Memória Visual, 2012), do romance O próximo da fila (Record, 2015 – publicado na França em 2018, “Au suivant”, Anacaona Editions) , Palavras pequenas (infantil, Bazar do Tempo, 2016), O pé de meia e o guarda-chuva, (infantil, Malê, 2017), Previsão para ontem (poesia, Cousa, 2019), Rua do Escritor: crônicas sobre leitura (crônicas, Malê, 2020) e O brinquedo novo (infantil, Estrela, 2020).

É coautor do livro Quatro estações: o trevo (independente, 1999) e participou das antologias Prosas cariocas: uma nova cartografia do Rio de Janeiro (Casa da Palavra, 2004), Dicionário amoroso da Língua Portuguesa (Casa da Palavra, 2009), Escritores escritos (Flâneur, 2010), Humor Vermelho vol. 2 (Vermelho Marinho, 2010), Brasil-Haiti (Garimpo, 2010), Amar, verbo atemporal (Rocco, 2012) e Vou te contar: 20 histórias ao som de Tom Jobim (Rocco, 2014).

É organizador e coautor de Como se não houvesse amanhã: 20 contos inspirados em músicas da Legião Urbana (Record, 2010) e O livro branco: 19 contos inspirados em músicas dos Beatles + bonus track (Record, 2012) e Conversas de botequim: 20 contos inspirados em canções de Noel Rosa (com Marcelo Moutinho. Mórula, 2017).

contato@henriquerodrigues.net

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O que é literatura?

É a arte da palavra.

O que é escrever ficção?

É criar um mundo – ou parte dele – que não existe, mas ao mesmo tempo existe em outro tempo e outro lugar.

Escrever é um ato político? Por qual motivo?

Sim, escrever é um ato político, só não precisa ser panfletário. Isso porque a escrita literária em si é uma forma de contestar o mundo tal como ele é ou está.

Para além do aspecto do ofício, a literatura, de forma geral, representa o quê para você?

Uma forma íntima e ao mesmo tempo coletiva de liberdade.

O escritor é aquela pessoa que vê o mundo por ângulos diferentes. Mesmo criando, por vezes, com base no real, é outra coisa que surge na escrita ficcional. A ficção, então, pode ser entendida com uma extensão da realidade? Um mundo paralelo?

Não diria que fosse paralelo, pois os paralelos nunca se encontram. A ficção tem uma relação de espelho com o real. Mas se é um espelho liso, côncavo, convexo, ondular, isso cabe à intenção do autor.

Quando você está prestes a começar uma nova história, quais os sentimentos e sensações que te invadem?

Crédito: Silvia Alcântara

Sensações híbridas entre a animação de estar diante de um ambiente todo em branco com todas as questões técnicas atreladas à escrita.

A leitura de outros autores é algo que influencia bastante o início da carreira do escritor. No seu caso, a influência partiu dos livros ou de algo externo, de situações cotidianas, que te despertaram o interesse para a escrita?

O meu interesse pela escrita se deu na adolescência, pela influência de bons professores na rede pública. Na minha casa não havia livros, como é o caso da maioria das residências de famílias pobres brasileiras.

Você escreve para tentar entender melhor o que conhece ou é justamente o contrário? A sua busca é pelo desconhecido?

Nunca tinha pensado nisso, mas acredito que seja ambos, pois são inter-relacionados.

O que mais te empolga no momento da escrita? A criação de personagens, diálogos, cenas, cenários, narradores….etc?

Me empolga terminar de escrever. Ter escrito é melhor do que escrever em si. Seja um poema, uma crônica ou conto, bom mesmo é quando o pequeno ciclo acaba.

Um personagem bem construído é capaz de segurar um texto ruim?

Creio que não. Apesar de alguns grandes autores centrarem no personagem o eixo de um texto, outros elementos de construção podem tornar a leitura bem desagradável, como um narrador mequetrefe, diálogos ruins ou até – como vem acontecendo muito – sequências de erros de revisão.

Entre tantas coisas importantes e necessárias em um texto literário, na sua produção, o que não pode deixar de existir?

A surpresa.

Nesse tempo de pandemia, de tantas mortes, qual o significado que a escrita literária tem?

No início pensávamos que seria uma época de grande produção, mas foi o contrário. Agora que estamos, sem escolha, tendo que conviver nesse chamado novo normal, a escrita literária volta aos poucos como uma atividade normal. Só não creio que seja um bom momento para publicar.

No Brasil, o ofício do escritor é tido quase com um passatempo por outras pessoas. Será que um dia essa realidade vai mudar? Existem respostas lógicas para esse questionamento eterno?

Para que isso mude seria necessário um investimento maciço e de longo prazo na educação para a leitura literária básica, dentro de políticas públicas para a área. Até hoje isso nunca existiu no país. Parece que o senso comum vê a escrita de prosa como um passatempo de classe média, enquanto a de poesia uma atividade banal ou de jovens universitários à toa.

A imaginação, o impulso, a invenção, a inquietação, a técnica. Como domar tudo isso?

Pesquisa, exercício e paciência.

O inconsciente, o acaso, a dúvida…o que mais faz parte da rotina do criador?

Tudo isso e mais alguma coisa. No meu caso, uma descompensação em relação ao mundo, originada por um misto de indignação com uma pulsão lírica e lúdica.

O que difere um texto sofisticado de um texto medíocre?

Isso pode variar de acordo com o leitor, né? Mas basta comparar o texto de um bom poeta com a maioria do que fazem os instapoets para a diferença ficar clara.

O leitor torna-se cúmplice do escritor em qual momento?

Quando abre a página.

O leitor ideal existe?

Uai, se existisse não seria ideal, certo?

O simples e o sofisticado podem (e devem) caminhar juntos?

Claro, mas não é sempre que conseguem. Um exemplo: Fernando Sabino.

Cite um trecho de alguma obra que te marcou profundamente.

“Divagar. E sempre!”, no “Millôr Definitivo: a Bíblia do caos”

Apenas um livro para livrá-lo do fim do mundo em uma espaçonave. O seu livro inesquecível. Qual seria?

“Millôr Definitivo: a Bíblia do caos”

Qual a sua angústia criadora?

Ter uma ideia que parece boa, achar que de tão boa não preciso anotar, e esquecê-la logo em seguida.

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