Escrever é muito bom. Vários escritores já disseram isso. Não tem lógica ser o contrário. Mas o ato de produzir histórias é algo que requer uma determinação enorme, nem todos conseguem, abandonam no meio do caminho. A leitura, como já foi falada anteriormente em outros artigos aqui no Angústia Criadora, é algo imprescindível para a formação do futuro escritor. Ler é, sem dúvida, um prazer enorme. Provoca sensações que nenhuma outra forma de expressão artística consegue passar. É com esse assunto que o autor Fernando Farias encerra sua participação no projeto Eu escritor.

Por Fernando Farias

 

Escrever dá muito trabalho, se gasta tempo, não se ganha dinheiro. Só serve para encher os bolsos das editoras e gráficas. Ser apenas leitor é gratificante, um deleite, é gostoso ler o que os outros tiveram tanto trabalho para escrever e editar. Nada melhor do que ler bem relaxado numa cadeira de balanço, daquelas de fitas de macarrão de plástico. Ficar passivamente recebendo da mente criativa dos grandes escritores, os romances, poemas e contos. Afinal, eu e você nunca vamos conseguir escrever como um Dostoiévski, um Flaubert, um Tchecov. São milhares e milhares de livro de poemas escritos no mundo, e o Fernando Pessoa continua insuperável.

Tanta gente estudando nas oficinas literárias, assim como eu, vivendo a ilusão de ser um grande escritor movido pelas ilusões da vaidade, da fama e do dinheiro. Lembra-me até aquela publicidade de um cartão de crédito que poderia terminar assim: “Posso te falar uma coisa? Ler um livro é muito melhor.” Mas ninguém vira celebridade por ler um livro.

Uma das frases de filmes que mais me marcou foi do cineasta Pier Paolo Passolini. Você já assistiu ao filme Decameron do Pier Paolo Passolini? Das 100 histórias do Giovanni Boccaccio, o mestre Passolini escolheu nove e termina o filme exatamente com esta frase.  “Por que criar uma obra de arte tão bela se sonhar com ela é muito mais belo?”

Pra que escrever um livro quando imaginar as suas histórias é muito mais interessante?

Imaginação. Imaginar é uma arte e nunca, nunca,o que foi realmente imaginado por um escritorfoi devidamente escrito por eles. Nem pelo Guy Maupassant nem Machado de Assis ou qualquer outro. E rasgo teses e artigos de qualquer grande iluminado da literatura acadêmica mundial que tente me mostrar o contrário.

Não se pode ser escritor, escritor de ficção, sem muita fantasia na mente, com o sonhar acordado, sem a imaginação livre. Sem um contato puro e mental com a liberdade do pensamento. Não se engane: nenhuma musa ou deuses não inspiram os escritores. E não acredito nos registros akáshicos do hinduísmo.

Com certeza sou um chato. Você já notou isso desde o início. E está irritando-se e buscando negar violentamente tudo que escrevo aqui. Logo eu que escrevi e publiquei centenas de contos? Mas tudo que eu fiz cai por terra quando leio um único conto do Jorge Luis Borges. O belo conto chamado Um milagre Secreto, todo aspirante precisa ler este conto que consta do livro Ficções. Diante de um pelotão de fuzilamento, Jaromir, já com as balas vindas em sua direção, consegue escrever mentalmente, num segundo, o final de seu romance que estava sem conseguir terminar há anos. Jorge Luis Borges era um chato tão perfeito que mostrou que estou errado, que é possível superar muitos mestres do século 19. Mas Borges e Garcia Marquez não conta, são de outro planeta.

Por mais conhecimento da gramática e de todas as técnicas e fuguras de linguagem criadas na história, nada supera a imaginação e fantasia criativa para se escrever uma boa história. Milhões de livros, peças e filmes foram realizados nos séculos 20 e 21. As livrarias estão cheias até o teto. Mas poucos artistas como Michael Ende ou Charlie Kaufman surgiram.

Neste último artigo para o Angústia Criadora faço questão de negar tudo que escrevi e repetir que é muito mais negócio ler bons livros. Admito que o meu acervo literário é muito pequeno e que, por certo, cometo muitos pecados ao fazer tais afirmações. Mas as histórias escritas têm que ser imaginadas para se tornarem reais na mente dos leitores. Sem isso não vale a pena escrever.

Se você escrever um livro e publicá-lo, corre os risco de se tornar uma pessoa frustrada ou mais um arrogante. Com centenas de livros em baixo da cama sem ter como vender e distribui-lo, ou vai passar a vida em torno de academias literárias (tem uma a cada esquina), ou participar de concursos sempre com cartas marcadas, ou ainda, aguardar sem sucesso o seu livro ser aprovado por editais de programas de incentivos a cultura, e cercado de pessoas tão frustradas e arrogantes como você, que não vão ler seus livros e ainda o criticam para outros amigos. Escritores não têm amigos, têm concorrentes.

Grandes sucessos da literatura atual podem constar nas listas dos mais vendidos. Mas são os menos lidos, e o Jô Soares que o diga. São mais de quatro mil escritores hoje em Pernambuco, mas quem faz sucesso com seus méritos, fantasias e prêmios são o Ariano, o Carrero, o Homero, o Sidney, o Belmar e o Marcelino. De resto vivemos dos escritores do passado e da roda de amigos, amigos recitando para amigos.

Alguém já disse que todo mundo quer escrever poemas, mas não quer ler livros de poemas. São escritores esperendo um dia se tornarem icones da literatuira pernambucana. Escritores sempre esperando, esperando, esperando. E o Augusto dos Anjos ainda zomba da cara da gente quando passa caminhando até a casa funerária da Rua da Conceição.

Portanto, não faça oficina literária, não escreva, apenas imagine e leia e releia o Fernando Pessoa. Ler um livro é muito melhor.

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Toda obra do poeta Fernbando Pessoa

http://www.revistabula.com/790-toda-a-obra-poetica-de-fernando-pessoa-para-download/

Veja o link para assistir o Decameron.

http://www.youtube.com/watch?v=ayVjH_Rj44E

Concursos literários duvidosos

http://concursos-literarios.blogspot.com.br/p/concursos-do-mes.html.

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