
Em homenagem aos 10 anos do Angústia Criadora, escritores de todo o país falaram com exclusividade ao site sobre literatura, processo criativo, a importância da escrita ficcional para o mundo e para a vida e diversos outros assuntos. Leia a entrevista a seguir com o convidado de hoje. Divulgue nas suas redes sociais. Acompanhe o Angústia Criadora também no Instagram: @angustiacriadora e Facebook: https://facebook.com/AngustiaCriadora
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Luigi Ricciardi é professor de francês e literatura. Tem mestrado e doutorado em Estudos Literários. Nascido em Londrina, vive em Maringá. Fundou a revista Pluriverso e mantém a Acrópole Revisitada, blog de resenhas literárias. Publicou os livros de contos: Anacronismo moderno (2011), Notícias do submundo (2014), Criador e criatura (2015), Antes fosse uma metáfora morta (2018) e A aspereza da loucura (2018). Os passos vermelhos de John é seu primeiro romance.
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O que é literatura?
É o que ainda me mantém de pé.
O que é escrever ficção?
É a continuação, na idade adulta, do fabular de criança.
Escrever é um ato político? Por qual motivo?
Sim, porque falar do humano em sociedade é ser político.
Você escreve para oferecer o quê ao mundo?
Nada.
O que pretende tocar com a palavra literária, com a ficção?
Tocar o fundo de mim mesmo.
Um mundo forjado em palavras. Se o tempo atual pudesse ser resumido no título de um livro, seja ele hipotético ou não, qual seria?
“Caos: história do homo sapiens”
A incompletude faz parte do trabalho do ficcionista? No sentido de que nunca determinado conto, novela ou romance, estará totalmente finalizado?
A última linha escrita dá início à primeira linha não escrita. Escrever é um recorte, não se chega nunca à completude. E o que está escrito é só uma versão que se decidiu publicar.
Qual o pacto que deve ser feito entre o escritor e a história que ele está escrevendo?
O de se confiarem mutuamente.
O que pode determinar, do ponto de vista criativo, o êxito e o fracasso de uma obra literária?
Não acreditar na própria história.
Como surgiu em você o primeiro impulsivo criativo?
Necessidade de me expressar de alguma maneira.
As suas leituras acontecem a partir de quais interesses?
Do humor e da vontade do dia.
Escrever e ler são partes indissociáveis do mesmo processo de criação. Como equilibrar o desejo de ler com o de escrever?
Não faço ideia. Só sei que sou mais leitor que escritor.
Um escritor é escritor 24 horas por dia? É, ao mesmo tempo, uma benção e uma maldição?
Eu não suportaria ser escritor por tanto tempo. Sou por apenas alguns breves períodos.
O crítico Harold Bloom falava sobre o fantasma da influência. Você lida bem com isso?
Sim, não acho que seja assim de tão fácil contaminação.
O escritor sempre está tentando escrever a obra perfeita?
A obra perfeita é apenas a obra perfeita para aquele momento. Dois dias se passam e então a obra perfeita já se torna outra.
Como Flaubert disse certa vez, escrever é uma maneira de viver?
É se eternizar depois de ter partido.
Quando você chega na conclusão de que alcançou o objetivo na escrita (na conclusão) da sua história?
Quando contei o que queria contar.
A literatura precisa do caos para existir?
Precisa dele e luta pelo fim dele.
O escritor é um eterno inconformado com a vida?
O artista, num geral, é. As páginas são: ou nosso ideal de substituição da realidade ou nossa raiva em relação a essa realidade.
Cite um trecho de alguma obra que te marcou profundamente.
“Comecemos por uma célebre tarde de novembro, que eu nunca esqueci…”
Apenas um livro para livrá-lo do fim do mundo em uma espaçonave. O seu livro inesquecível. Qual seria?
O que estiver mais ao alcance da mão.
Qual a sua angústia criadora?
Existir