Por Ney Anderson
Em homenagem aos 10 anos do Angústia Criadora, escritores de todo o país falaram com exclusividade ao site sobre literatura, processo criativo, a importância da escrita ficcional para o mundo e para a vida e diversos outros assuntos. Leia a entrevista a seguir com o convidado de hoje. Divulgue nas suas redes sociais. Acompanhe o Angústia Criadora também no Instagram: @angustiacriadora e Facebook: https://facebook.com/AngustiaCriadora
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Márwio Câmara nasceu no Rio de Janeiro, em 1989. É bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, licenciado em Letras e pós-graduado em Estudos Linguísticos e Literários. Assina entrevistas com escritores brasileiros para o Jornal Rascunho. Leciona Língua Portuguesa, Literatura e Produção Textual. Autor do livro Solidão e outras companhias. Publicou recentemente o romance “Escobar”, editado pela Moinhos.
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O que é literatura?
Uma forma de concatenar o caos.
O que é escrever ficção?
Dar sentido ao real ou fazer uma pergunta.
Escrever é um ato político? Por qual motivo?
Inevitavelmente. Se somos seres políticos, a escrita sempre será política, até porque ela acaba registrando o pensamento do homem de uma determinada época
Você escreve para oferecer o quê ao mundo?
Perguntas.
O que pretende tocar com a palavra literária, com a ficção?
Não sei bem se entendi a pergunta, mas eu diria que a ficção é a forma que encontrei para me comunicar com as pessoas.
Um mundo forjado em palavras. Se o tempo atual pudesse ser resumido no título de um livro, seja ele hipotético ou não, qual seria?
A desumanização, sem querer roubar o título do Valter Hugo Mãe.
A incompletude faz parte do trabalho do ficcionista? No sentido de que nunca determinado conto, novela ou romance, estará totalmente finalizado?
Sempre e sempre, já que a linguagem não dá conta de exprimir tudo que observamos ou sentimos.
Qual o pacto que deve ser feito entre o escritor e a história que ele está escrevendo?
De levar alguma coisa de relevante para o leitor.
O que pode determinar, do ponto de vista criativo, o êxito e o fracasso de uma obra literária?
O fracasso pode ser um êxito, da mesma maneira que o êxito pode se tornar um futuro fracasso. Depende de muitos pontos de vista. Escrever é um pouco disso: êxito e fracasso constante. É importante que não exista pressão dentro do trabalho do escritor. A pressão pelo novo livro ou pelo novo “grande” livro.
Como surgiu em você o primeiro impulso criativo?
Desde muito cedo. Nos primeiros anos da infância. Sempre fui apaixonado pelos livros e por narrar estórias.
As suas leituras acontecem a partir de quais interesses?
Por interesses diversos. Sou uma pessoa bastante curiosa.
Escrever e ler são partes indissociáveis do mesmo processo de criação. Como equilibrar o desejo de ler com o de escrever?
Ler é deleite. Escrever é trabalho. Não me vejo sendo um escritor sem antes passar pelo exercício da leitura. Acho que o leitor complementa o escritor.
Um escritor é escritor 24 horas por dia? É, ao mesmo tempo, uma benção e uma maldição?
O escritor é um profissional como outro qualquer. Acredito que na vida exercemos muitos papéis. Sou o filho, o irmão, o tio, o amigo, o pai — de três gatos –, o amante, o professor, o jornalista e, também, o prosador. Vejo o ofício da escrita mais como uma bênção do que uma maldição, porque escrever me ensina muito sobre a vida. Escrever me ajuda a olhar melhor o outro.
O crítico Harold Bloom falava sobre o fantasma da influência. Você lida bem com isso?
A influência faz parte da vida de todo e qualquer artista. Com o tempo cada um vai descobrindo e construindo a sua própria voz e estilo.
O escritor sempre está tentando escrever a obra perfeita?
Os mais genuínos, sim. Não existe uma obra perfeita. Relevância não tem nada a ver com perfeição. Clarice era maravilhosa justamente por não ser perfeita, assim como Guimarães Rosa e tantos outros.
Como Flaubert disse certa vez, escrever é uma maneira de viver?
Também. É uma maneira de se sentir vivo. De pensar na experiência humana como um todo.
Quando você chega na conclusão de que alcançou o objetivo na escrita (na conclusão) da sua história?
Esse momento demora, mas quando acontece é mágico. Você sente que o texto ganhou realmente vida e independência, e que não precisa mais da gente. Reler mais de uma vez que é o problema, sobretudo quando se é compulsivo pela estetização da palavra. rs
A literatura precisa do caos para existir?
A literatura é fruto do caos. O caos é a vida.
O escritor é um eterno inconformado com a vida?
Escrever é uma maneira de rebelar essa inconformidade.
Cite um trecho de alguma obra que te marcou profundamente.
Não sou bom para rememorar trechos de obras, mas o início de Os loureiros estão cortados, do Édouard Dujardin, é incrível.
Apenas um livro para livrá-lo do fim do mundo em uma espaçonave. O seu livro inesquecível. Qual seria?
Claro Enigma, de Drummond.
Qual a sua angústia criadora?
Entender o que é a vida.