Gilvan Lemos já escreveu mais de duas dezenas de livros.
Por Ney Anderson
Fotos – Ney Anderson
Um autor que já foi o queridinho das editoras, agora sofre com o esquecimento delas. “Dizem que foi por causa da timidez”, desabafa o homem de mais de oitenta anos que não consegue mais fazer o que sempre fez, escrever. A memória, que antes era a grande arma, agora está sem pólvora. Toda a munição já foi gasta nos 25 publicados.
O escritor nasceu em São Bento do Una, interior de Pernambuco, que serviu de cenário para boa parte da obra dele. Lemos nunca gostou de escrever à mão. Quando chegou ao Recife, começou a trabalhar em uma fábrica e com o primeiro salário comprou uma máquina de datilografar. O autor começou fazendo quadrinhos. Foi nessa mesma época que a irmã começou a comprar livros para ele. O primeiro que leu foi O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, que o despertou para o romancista que escreveria vários livros.
A escrita passou a ser o objetivo principal da sua vida. Amigo de Osman Lins, conta que o amigo sempre o influenciou em diversos momentos da vida. Um exemplo é quando pediu a Gilvan Lemos para inscrever um romance no prêmio Orlando Dantas, do Diário de Notícias do Rio de Janeiro. Não deu outra: Gilvan Lemos sairia vitorioso.
Os livros mais recentes do autor têm uma alta dose de realidade, como por exemplo Na Rua Padre Silva, uma espécie de Graciliano Ramos no Centro do Recife ou em qualquer outra metrópole do Brasil. “Escrevo sobre o que vejo e conheço. As desgraças que acontecem na cidade, no país. Quando escrevo tento causar as mesmas coisas que queria causar quando era menino, pensando em ser escritor: distração, vivência, alegrias, tristezas”, revela.
Gilvan Lemos não vê a nova literatura brasileira com bons olhos. “Não consigo entender o que os jovens escritores estão fazendo. Eles escrevem para ninguém entender nada. Até o Dalton Trevisan, que era o melhor contista do Brasil, está inventando esse negócio de contos curtos. Disse que a meta dele era escrever um conto com apenas uma palavra. Não tenho mais interesse”, decepciona-se.
A conversa está terminando e resta apenas uma última pergunta. “O que é a literatura para você?”. Com os olhos perdidos e cheios de lágrimas, responde como uma metáfora de um dos livros que criou: “Saudade”.