No primeiro texto do projeto Eu escritor, a autora Gerusa Leal fala sobre a leitura como fonte inesgotável de aprendizado, principalmente para os que pretendem seguir o ofício da escrita. Ao final, ela faz uma proposta de exercício baseado no conto A Cartomante, de Machado de Assis. Divirtam-se.

Por Gerusa Leal

Leitura

Foto: internet

Escrever é um ofício. Para bem desempenhá-lo, precisamos ter pelo menos noções, ainda que intuitivas, sobre como escrever com a maior clareza possível. E nada melhor para chegar a um razoável domínio das ferramentas com que se constrói uma obra de arte literária do que exercitar o seu uso. Sem materializar as idéias, colocá-las no papel, jamais se chegará a ser um escritor.

No entanto, a mola mestra de toda e qualquer criação literária é a leitura. O aprendizado das técnicas é útil, facilita a vida do escritor mas, sem leitura, seu texto, provavelmente, nunca passará de desabafo, catarse, confissão, relato. Não que não sejam opções válidas, mas sem a profundidade e amplitude que só a leitura proporcionam, jamais chegarão a ser prosa de ficção, muito menos de qualidade.

A leitura, a boa leitura, é o mínimo indispensável na formação de um escritor. Não apenas a leitura por entretenimento, essa também importante. É preciso aprender a fazer também outros níveis de leitura. Aprender a ler como um escritor. Pode-se até não se aprender a ser escritor. Mas, com certeza, é possível aprender a ser melhor leitor.

Nem sempre um bom leitor, por uma série de razões, inclusive uma legítima falta de interesse no exercício do ofício, se torna um escritor. Mas a maioria esmagadora dos bons escritores são, antes de tudo, bons leitores. Ser um bom leitor não significa que se tenha que ter lido todos ou sequer a maioria dos melhores livros já escritos no mundo. Cada vez mais essa se torna uma meta inatingível. O que garante a formação de um bom leitor é a qualidade de cada leitura em particular.

E se além de um bom leitor se quer ser um escritor é preciso que se aprenda a ler de forma que a leitura concentre a sensibilidade para o conteúdo e o olhar crítico para a forma. Apreciar tanto o efeito afetivo, emocional, curtir o prazer que uma boa leitura proporciona, quanto se sentir estimulado a perceber, nem que seja apenas numa segunda, terceira ou enésima leitura, detalhes da estrutura do texto que conseguem o efeito que nos atinge – quando a obra é de boa qualidade, bem realizada – como apreciação estética onde conteúdo e forma nos mobilizam sentimento e raciocínio de maneira totalizante e unificada.

Dica de leitura:

Conto A cartomante – Machado de Assis

(você pode encontrá-lo no http://www.releituras.com/machadodeassis_cartomante.asp)

Primeiro leia o texto uma vez, por prazer, acompanhando a narrativa sem qualquer outra preocupação que desfrutar da leitura. Depois, faça uma segunda leitura, se se interessar em praticar o exercício sugerido abaixo.

Exercício:

Perceba que a narrativa, afora nos diálogos, está toda escrita em terceira pessoa. Procure identificar, ao longo do texto, em que pontos a história poderia estar sendo contada por um terceiro que não participa do enredo, em que pontos só se o narrador – sendo um terceiro – fosse onisciente, ou se tratasse da própria personagem falando de si mesma em terceira pessoa, poderia ter acesso aos sentimentos e/ou pensamentos narrados.

Pense nisso. Voltaremos ao assunto.

Envio de exercício para o e-mail: neyandersoncavalcante@gmail.com 

4 thoughts on “O ofício da escrita”
  1. Parabéns aos executores do projeto e aos apresentadores dos textos a cada segunda feira, aqui no Face. Precisamos de iniciativas como esta.

Deixe um comentário para Vanine Borges Amaral Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *