Crédito das fotos: Renato Parada

Por Ney Anderson

Em homenagem aos 10 anos do Angústia Criadora, escritores de todo o país falaram com exclusividade ao site sobre literatura, processo criativo, a importância da escrita ficcional para o mundo e para a vida e diversos outros assuntos. Leia a entrevista a seguir com o convidado de hoje. Divulgue nas suas redes sociais. Acompanhe o Angústia Criadora também no Instagram: @angustiacriadora e Facebook: https://facebook.com/AngustiaCriadora

 

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Santiago Nazarian (São Paulo, 1977) é autor de diversos romances, entre eles Fé no Inferno (Companhia das Letras, 2020), Biofobia (Editora Record, 2014) e Mastigando Humanos (Nova Fronteira, 2006, Record 2013)Descreve seu projeto literário como “existencialismo bizarro”, no qual mescla questões atemporais da literatura existencialista com cultura pop, humor negro e horror. Tem obras publicadas em vários países da América Latina e Europa e direitos vendidos para cinema e teatro. Em 2003 ganhou o Prêmio Fundação Conrado Wessel de Literatura com seu romance de estreia. Em 2007, foi eleito um dos escritores jovens mais importantes da América Latina pelo júri do Hay Festival em Bogotá, Capital Mundial do Livro. Além de escritor, é tradutor, roteirista e colabora em diversos periódicos.

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O que é literatura?

A arte de criar realidades através da escrita.

O que é escrever ficção?

Transmitir um universo próprio através de palavras.

Escrever é um ato político? Por qual motivo?

No contexto atual, no Brasil, escrever raramente é um ato político porque raramente tem qualquer efeito social. É mais um ato masturbatório.

Para além do aspecto do ofício, a literatura, de forma geral, representa o quê para você?

Uma maldição.

O escritor é aquela pessoa que vê o mundo por ângulos diferentes. Mesmo criando, por vezes, com base no real, é outra coisa que surge na escrita ficcional. A ficção, então, pode ser entendida com uma extensão da realidade? Um mundo paralelo?

Vejo mais como uma extensão da realidade do que um mundo paralelo. Nós vivemos num mundo em que existem deuses, monstros, demônios… tantos conceitos que só existem porque foram criados, e esse é poder da arte em geral, essa expansão da realidade. Porém, creio que o escritor mais bem-sucedido, não só em termos comerciais, é aquele que mais consegue se aproximar da realidade genérica, transmitir um ângulo não tão diferente, e sim algo que uma grande maioria também enxergue e concorde, mas nem sempre saiba expressar.

Quando você está prestes a começar uma nova história, quais os sentimentos e sensações que te invadem?

Entusiasmo. Para mim a escrita é uma grande diversão, por isso insisto.

A leitura de outros autores é algo que influencia bastante o início da carreira do escritor. No seu caso, a influência partiu dos livros ou de algo externo, de situações cotidianas, que te despertaram o interesse para a escrita?

Situações cotidianas sempre dão ferramenta para a arte, mas a escolha pela literatura, pela escrita, se deu pela leitura de outros autores, é claro, ao perceber o que era possível de se fazer apenas com palavras.

Você escreve para tentar entender melhor o que conhece ou é justamente o contrário? A sua busca é pelo desconhecido?

Eu não vejo como um autor pode escrever sobre o que não conhece. Existe a pesquisa, é claro, mas ela é a base para se criar um conhecimento e depois escrever sobre ele. Então é uma forma de organizar esse conhecimento como parte de um universo.

O que mais te empolga no momento da escrita? A criação de personagens, diálogos, cenas, cenários, narradores…etc?

O personagem é sempre o que mais me motiva. O personagem é o texto.

Um personagem bem construído é capaz de segurar um texto ruim?

Como eu disse, o personagem é o texto, então texto ruim é personagem ruim.

Entre tantas coisas importantes e necessárias em um texto literário, na sua produção, o que não pode deixar de existir?

Um personagem por quem eu possa me apaixonar.

Nesse tempo de pandemia, de tantas mortes, qual o significado que a escrita literária tem?

Nesse tempo, nada faz sentido.

No Brasil, o ofício do escritor é tido quase com um passatempo por outras pessoas. Será que um dia essa realidade vai mudar? Existem respostas lógicas para esse questionamento eterno?

Olha, já tivemos tempos mais auspiciosos para a literatura no Brasil, como para o Brasil como um todo, nos primeiros doze anos deste milênio, mas também não acho que estejamos no pior dos momentos – o escritor hoje tem uma área de atuação muito maior do que nos anos 90, por exemplo, com as possibilidades de escrita para TV, cinema, adaptações, oficinas, palestras. É ver se a coisa não deteriora ainda mais – nesse momento, não sabemos nem se a raça humana vai prosperar…

A imaginação, o impulso, a invenção, a inquietação, a técnica. Como domar tudo isso?

Vodca.

O inconsciente, o acaso, a dúvida…o que mais faz parte da rotina do criador?

As dívidas… kkkk

O que difere um texto sofisticado de um texto medíocre?

Acho que o segredo é criar um universo próprio tangível.

O leitor torna-se cúmplice do escritor em qual momento?

Quando pega o personagem para si.

O leitor ideal existe?

Claro, tem que ser gatinho, e andrógino…

O simples e o sofisticado podem (e devem) caminhar juntos?

Sim.

Cite um trecho de alguma obra que te marcou profundamente.

“Beauty is a form of Genius”, Oscar Wilde.

Apenas um livro para livrá-lo do fim do mundo em uma espaçonave. O seu livro inesquecível. Qual seria?

O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde.

Qual a sua angústia criadora?

Nunca saber como meu texto será lido. Não temos palco, aplauso, likes, amendoins…

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