Por Ney Anderson

Um crime brutal aconteceu no Recife do século XIX. Uma jovem de uma tradicional família foi emparedada, literalmente, pelo pai por ter ficado grávida antes do casamento, uma vergonha para a época. Com elementos claros de um romance policial, a história foi publicada originalmente em forma de folhetins em periódicos. O autor foi o fundador da Academia Pernambucana de Letras, Carneiro Vilela, e o primeiro capítulo foi publicado em 1871 no América Ilustrada, criado pelo próprio Vilela.

Rua Nova

Foto: Rua Nova década de 1970- Recife/PE – reprodução internet

Há quem diga que o crime aconteceu de fato, mas não se sabe da veracidade do relato, que o próprio autor nunca revelou totalmente se houve. Ambientado em um Recife muito diferente do de hoje, com mulheres andando de sombrinhas, em longos vestidos, de braços dados com os maridos de terno e gravata. Uma discrição perfeita para entender a capital de dois séculos passados.

Se pouca coisa daquele ano não se parece em nada ao que se está acostumado, a Rua Nova talvez permaneça muito parecida, com um grande comércio tanto formal quanto informal, das pessoas que ficam na esquina pedindo um “trocado” e com uma arquitetura que ainda se mantém.

A emparedade da Rua Nova

Reprodução internet

O drama envolve personagens poderosos da alta sociedade pernambucana, pessoas que trabalhavam com açúcar, vendendo e exportando. Todos numa grande roda de mentiras e traições. Seis personagens fazem parte do enredo da emparedada: Leandro Dantas, Celeste e Tomé Cavalcanti (marido de Celeste), Josefina e o marido, Jaime Favais e por último a filha do casal, Clotilde.  O primeiro é um rapaz misterioso, que se diz médico e aparece raramente nas redondezas (um homem invisível). Não demora muito para que as mulheres envolvidas se apaixonem por ele.

A jovem Clotilde, que até então não tinha a menor possibilidade de se envolver afetivamente com o misterioso homem, é engravidada por ele. O pai dela manda matar o homem e depois condena a própria filha a um castigo fatal que nem mesmo Edgar Alan Poe, pai do romance policial, teve a ideia de escrever, emparedando-a no próprio quarto, como se de lá nunca devesse ter saído.

A emparedada

Cena do curta-metragem baseado na obra de Carneiro Vilela

Realidade ou ficção? Nunca se saberá, mas Carneiro Vilela soube muito bem desenvolver esse relato-romance de forma ímpar e até virou tema de curta-metragem pelas mãos do diretor Marlom Meirelles em 2010. Uma coisa é certa, Vilela apropriou-se de uma receita  que, vários anos depois e até hoje, muitos best-sellers utilizam, que é prender o leitor até a última página. Nesse caso específico, a Emparedada da Rua Nova não só conseguiu fisgar os leitores da época, pelo efeito dramático e sombrio, como foi elevada ao nível de lenda urbana, mais uma para povoar o imaginário coletivo dos recifenses.

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