Por Ney Anderson

Foi divulgado ontem (8), pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) os nomes dos vencedores do 1º Prêmio Pernambuco de Literatura. O diferencial da premiação foi ter atendido as quatro macrorregiões do Estado, totalizando 35 cidades participantes com 192 inscrições. O mais interessante ainda foi o nome de Bruno Liberal, de Petrolina, ter recebido o prêmio principal, que pagará R$ 20 mil e a publicação da obra.

Ele tem 32 anos, é natural de Goiânia-GO, mas cresceu em Petrolina, sertão pernambucano. Economista de formação morou em Feira de Santana-BA, Boa Vista-RR, Manaus-AM e Teresina-PI. Trabalhou como executivo do Unibanco e foi professor do curso de Comércio Exterior da Facape em Petrolina. Atualmente é diretor administrativo de uma empresa familiar. Paralelamente se dedica à literatura. Publicou em 2012, pela Editora Multifoco, o livro de contos Sobre o Tempo. Seu segundo livro, Olho morto amarelo, premiado nesse concurso, será publicado pela Companhia Editora de Pernambuco ainda este ano.

Em entrevista ao Angústia Criadora, ele comenta a surpresa de ter sido contemplado e, mesmo desbancando vários participantes, se considera um azarão.

Entrevista: Bruno Liberal

“Acho que o escritor deve buscar a essência do ser humano e isso é universal. Não importa a região”

bruno

Foto: divulgação

Receber um prêmio desse porte era o que faltava para impulsionar sua carreira de escritor?

Um prêmio desse porte dá uma visibilidade muito grande ao autor. Fui um “azarão” nesse concurso. Sou economista, não trabalho com literatura ou jornalismo e sou de uma cidade que não possui livrarias. A “carreira de escritor” é um sonho e esse prêmio é o melhor início de carreira que um jovem autor de Petrolina poderia ter. Estou muito feliz e quero seguir essa trilha.

Foi a primeira vez que recebeu um prêmio?

É o primeiro prêmio que recebo. Participei de alguns concursos no passado, mas nunca venci.

 Fale um pouco do livro vencedor, que aliás, tem um título bem curioso.

O livro é uma reunião de onze contos que escrevi após o lançamento do meu primeiro livro em agosto de 2012. Aborda a velhice, a vida, sexualidade, morte, filhos, relacionamentos e outros temas dentro de uma linguagem contemporânea. Procurei construir cada conto dentro de uma estrutura narrativa distinta que acrescentasse mais simbolismo à história. O nome do livro é o título de um dos contos. Vou deixar que vocês leiam o livro para entenderem.

Você escreve desde cedo?

Comecei a escrever ficção na época que estudava economia na UEFS em Feira de Santana-BA, por volta do ano 2000; lia tudo que encontrava na biblioteca da universidade, principalmente os clássicos: Kafka, Dostoievski, Sartre, Saramago, Graciliano Ramos, José Lins, Guimarães Rosa. Esse momento foi muito importante na minha formação de escritor. Meu primeiro livro de contos foi feito utilizando parte desse material.

Você observa alguma diferença na literatura produzida no interior em relação ao que é produzido no Recife, por exemplo? A problemática das histórias são diferentes ou os temas se assemelham?

A tendência é que temas como seca, fome, a tradição sertaneja, apareçam mais fortes no interior do estado. Mas a tecnologia está transformando muito os costumes no sertão. O lavrador possui um smartphone e toma cachaça no boteco com o celular na mesa mostrando vídeos que recebeu dos amigos. Esse tipo de retratação do “novo sertão” não é muito explorado, alguns escritores guardam uma linguagem sertaneja ultrapassada, que não mostra a atualidade. Acho que o escritor deve buscar a essência do ser humano e isso é universal. Não importa a região.

 Vai aproveitar a divulgação do seu nome para tentar lançar outras obras?

Estou trabalhando num romance. Como sempre escrevi contos, tenho muito o que pesquisar e trabalhar para chegar na qualidade que quero. Depois do prêmio, sei que a cobrança irá aumentar.

Falta mais incentivo do Governo do Estado para os artistas em geral, principalmente na literatura?

Sinto falta de mais ações específicas para a literatura no interior do estado. Mas o cenário está mudando. Esse prêmio é uma prova disso. Ano passado fiz uma oficina de literatura com o escritor Marcelino Freire aqui em Petrolina, um projeto do SESC. As aulas do Marcelino me ajudaram muito na criação desse livro de contos. Esse tipo de ação é muito importante para uma política cultural consistente em todo o estado.

Quem são seus pares na escrita? Fale um pouco dessas pessoas que você admira.

Sobre leituras recentes, admiro o trabalho do Marcelino Freire, Ricardo Lísias, Lourenço Mutarelli, José Luiz Passos, Raduan Nassar, li um conto do Cristhiano Aguiar na Granta que fiquei impressionado. Também de David Foster Wallace, da escocesa Ali Smith, Don Delillo, Philip Roth e muitos outros. Tenho me dedicado a ler autores contemporâneos.

Os outros vencedores foram:

 

Prêmios (5 mil)

O livro de Corintha  Fernando Antônio de Barros Monteiro (Recife)

Recife, no hay  Delmo Montenegro da Silva Júnior (Recife)

O metal de que somos feitos  José Walter Moreira dos Santos (Vitória de Santo Antão)

Discursos e Anatomias Jeilson José Ferreira da Silva (Passira)

MENÇÃO HONROSA

15 dias de ócio em 50 páginas – Mário Gonçalves de Barros (Recife)

A volta do rei do cangaço – Euclides José de Almeida Júnior (Capoeiras)

Adorável brinquedo – José Agassiz Vasques Macêdo (Recife)

Arremessos de um dado viciado – Ednaldo Francisco do Carmo Júnior (Paulista)

Digo que é noite – Rejane Gonçalves dos Santos (Olinda)

Memorial dos mortos – Carlos Roberto Magalhães Numeriano (Recife)

Memórias para um livro de Nina – Rejane Maria dos Guimarães Paschoal (Paulista)

O beato – Tarcízio Rodrigues da Silva (Serra Talhada)

O duende negro – Fernando Farias Guerra (Surubim)

O lume e o agreste – Fabiano Costa Coelho (Recife)

O porto distante – Paulo Afonso Correia de Paiva (Recife)

Padaria CDU – Artur Rogério Coelho de Carvalho (Recife)

Planta baixa – Cleyton José de Andrade Cabral (Recife)

Quatro cavalos – Luiz Felipe de Queiroga Aguiar Leite (Recife)

Trem do silêncio – Paulo Sérgio Ferreira da Costa (Recife)

One thought on “Bruno Liberal foi o grande vencedor do 1º Prêmio Pernambuco de Literatura”
  1. participei desse I Premio pernambuco de Literatura pretendo participar todas as vezes,parabens em primeiro ao nosso brilhante governador e a todos os participantes.

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