André Timm recebeu menção honrosa no prêmio Sesc 2009 .
Foto: Yusanã Mignoni.
Por Ney Anderson
Nos dias atuais a literatura sofre uma concorrência absurda com tudo o que acontece ao redor. Novos games surgem; redes sociais com recursos ilimitados; filmes de ação e mais outros tantos atrativos para uma sociedade que busca, cada vez mais, o prazer pelo imediato. Num país com índices baixíssimos de leitura, tudo isso soaria praticamente como a morte da literatura, que já vem sendo anunciada por vários “estudiosos” do meio literário. No entanto, os escritores estão atentos a essa nova “tendência” do mercado, e estão buscando diminuir a brecha entre o entretenimento e a arte. Narrativas curtas ganham cada vez mais fôlego, e devem mostrar tudo em tão pouco tempo. O escritor americano Edgar Allan Poe já havia falado isso em sua Filosofia da Composição, que um leitor nunca é o mesmo leitor quando está lendo um texto ficcional por partes, que a experiência de ler um conto, por exemplo, deveria ser de uma “sentada só” (como acontece no cinema), uma entrega completa. 

É bem provável que o escritor André Timm tenha lido esse ensinamento de Poe, aja vista a rapidez na qual, seu livro de estréia Insônia (Editora Design, 82 pgs. R$ 22,00), caminha. O livro é curto, oitenta e duas páginas, mas não fica devendo nenhuma explicação ao leitor. Aliás, explicação que o próprio leitor deve se fazer quando termina a leitura de um texto em forma de thriller, como acontece aqui. 


Insônia se passa em um prédio de vinte andares, onde dramas familiares acontecem, pessoas desaparecem repentinamente e coisas estranhas surgem. Poderia parecer um clichê, mas não é. O livro foi muito bem construído, nove contos, com os números dos apartamentos como títulos, já nos passam a idéia que iremos subir e descer, de elevador ou de escada, para alguns apartamentos, e conhecer seus moradores.


Os contos são bem diferentes, no entanto tem certa familiaridade, proposta já no título do livro, onde pessoas com insônia fazem coisas diferentes, por causa de um mesmo mau. Em um dos contos um personagem acorda num andar que não é o seu; um rapaz busca saber o que está escrito num papel colado na janela de outro apartamento; Clarice, uma moradora que está de mudança para o prédio, fica presa, sem conseguir sair, tanto ela quanto os funcionários da empresa que estão fazendo a mudança. Nesses dois últimos contos André Timm utilizou uma outra técnica, talvez inédita, de fazer a união de literatura e internet, pois, nesses contos os personagens recebem uma mensagem no computador para abrir um site (que existe mesmo), revelando um outro mundo, estranho da mesma forma, e que dá ainda mais rapidez ao livro.

O livro, como o autor mesmo diz, flerta o tempo inteiro com a proposta de links verdadeiros, saindo da narrativa e indo de encontro para um mundo à parte. Mas, o experimentalismo de Timm, serve muito bem e não faz de maneira alguma com que o leitor fique disperso. É até interessante como os sites ajudam em Insônia, eles não revelam nada dos contos, estão ali para causar um maior estranhamento, como se o ser humano com Insônia não fica apenas acordado, sem conseguir dormir, mas vagando, entre um mundo real e outro de sonhos e ilusões. 

“No fundo, tudo isso acaba remetendo à própria estrutura de um edifício”, comenta o autor. De fato, parece que os personagem estão andando, literalmente, dentro de um espaço físico delimitado, com tudo construido em camadas e se interconectando com várias dimensões.

André Timm tenta causar estranhamento, mas não apenas isso. O tipo de narrativa que criou não resolve tudo, não precisa de respostas imediatas (algo que está muito na moda atualmente), com textos sem explicação, lacunas etc. É um problema que só o leitor terá que resolver. Na abertura do livro tem uma citação de Marcelino Freire: “Livro não é pra ser entendido, é pra ser sentido”. Não poderia existir citação melhor para abrir esse livro. Talvez o leitor tenha que perder várias noites de sono para tentar entender os contos de Timm, ou então ficar eternamente com insônia, buscando respostas que nunca serão encontradas completamente. Um livro que, de fato, não deixa o leitor dormir.

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