Por Ney Anderson

Em homenagem aos 10 anos do Angústia Criadora, escritores de todo o país falaram com exclusividade ao site sobre literatura, processo criativo, a importância da escrita ficcional para o mundo e para a vida e diversos outros assuntos. Leia a entrevista a seguir com o convidado de hoje. Divulgue nas suas redes sociais. Acompanhe o Angústia Criadora também no Instagram: @angustiacriadora e Facebook: https://facebook.com/AngustiaCriadora

 

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Ezter Liu (1976) grande vencedora do V Prêmio Pernambuco de Literatura, é de Carpina, Zona da Mata de Pernambuco, graduada em letras e pós-graduanda em Literatura Brasileira, escritora de prosa e poesia, participou de várias coletâneas no estado. Em 2015, pela Porta Aberta Editora Independente, lança seu primeiro livro solo: Vermelho Alcalino (poemas). Ezter Liu foi a primeira mulher a receber o grande prêmio com o livro de contos Das Tripas Coração sua primeira publicação em prosa. Sua literatura se mistura à efervescência literária de Pernambuco, sobretudo na Zona da Mata e assim como os recitais e banquinhas independentes insiste e resiste.

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O que é literatura?

Literatura é quando as palavras dançam.

O que é escrever ficção?

É organizar um baile.

Escrever é um ato político? Por qual motivo?

Sim. Se pensarmos bem, tudo é político, até as pequenas ações. Estar no mundo é fazer escolhas políticas o tempo todo. Por mais que no ato da escrita essa não seja uma intenção primordial, o texto e o momento em que ele se insere sempre terá uma carga política.

Para além do aspecto do ofício, a literatura, de forma geral, representa o quê para você?

Um pilar.

O escritor é aquela pessoa que vê o mundo por ângulos diferentes. Mesmo criando, por vezes, com base no real, é outra coisa que surge na escrita ficcional. A ficção, então, pode ser entendida com uma extensão da realidade? Um mundo paralelo?

A boa ficção é um mundo paralelo, mesmo quando é extensão da realidade.

Quando você está prestes a começar uma nova história, quais os sentimentos e sensações que te invadem?

Urgência. Medo que a ideia se dissolva no ar (isso acontece muito comigo porque minha memória é de vapor)

A leitura de outros autores é algo que influencia bastante o início da carreira do escritor. No seu caso, a influência partiu dos livros ou de algo externo, de situações cotidianas, que te despertaram o interesse para a escrita?

A leitura é uma influência incontestável na minha vida, mas música e cinema foram – e são até hoje – bons estopins.

Você escreve para tentar entender melhor o que conhece ou é justamente o contrário? A sua busca é pelo desconhecido?

A minha busca é pela boa ideia. Eu vou pra onde a boa ideia me levar. Gosto quando ela me leva aos escuros. O desconhecido seduz.

O que mais te empolga no momento da escrita? A criação de personagens, diálogos, cenas, cenários, narradores….etc?

O que mais me empolga é achar o desfecho. Seja qual for a produção textual, quando eu acho o final eu fico empolgadíssima.

Um personagem bem construído é capaz de segurar um texto ruim?

Não. Eu não sei se tem algo que consiga segurar um texto ruim. Na verdade, o ruim é tão relativo. São tantos aspectos a considerar.

Entre tantas coisas importantes e necessárias em um texto literário, na sua produção, o que não pode deixar de existir?

Ritmo.

Nesse tempo de pandemia, de tantas mortes, qual o significado que a escrita literária tem?

Tem sido terapêutico, importante pra manter a lucidez. Tem sido refúgio e tem sido frustrante em algumas ocasiões. Diante da loucura desse momento, a escrita muda de papel várias vezes no meu cotidiano. Mas ainda assim é um pilar.

No Brasil, o ofício do escritor é tido quase com um passatempo por outras pessoas. Será que um dia essa realidade vai mudar? Existem respostas lógicas para esse questionamento eterno?

Do jeito que as coisas estão, acho que essa realidade ainda piora, não só com escritores. Muitos artistas não conseguem viver da sua arte. A economia em nosso país caminha pra um agravamento dessa situação. O que é uma pena.

 A imaginação, o impulso, a invenção, a inquietação, a técnica. Como domar tudo isso?

Eu não sei domar essas coisas. Deixo a cargo da ventania

O inconsciente, o acaso, a dúvida…o que mais faz parte da rotina do criador?

A dúvida é minha fiel escudeira.

O que difere um texto sofisticado de um texto medíocre?

As camadas.

O leitor torna-se cúmplice do escritor em qual momento?

No primeiro estalo de percepção de uma entrelinha.

O leitor ideal existe?

Nem o leitor nem o escritor ideal existem.

O simples e o sofisticado podem (e devem) caminhar juntos?

Sim. Acho sofisticado ser simples.

Apenas um livro para livrá-lo do fim do mundo em uma espaçonave. O seu livro inesquecível. Qual seria?

Levaria uma coletânea, daqui da minha estante eu levaria OS CEM MELHORES CONTOS BRASILEIROS DO SÉCULO (Ítalo Moriconi) salvaria vários autores do fim do mundo, ao invés de somente um.

Qual a sua angústia criadora?

O nosso tempo.

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