Por Ney Anderson

Em homenagem aos 10 anos do Angústia Criadora, escritores de todo o país falaram com exclusividade ao site sobre literatura, processo criativo, a importância da escrita ficcional para o mundo e para a vida e diversos outros assuntos. Leia a entrevista a seguir com o convidado de hoje. Divulgue nas suas redes sociais. Acompanhe o Angústia Criadora também no Instagram: @angustiacriadora e Facebook: https://facebook.com/AngustiaCriadora

 

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Godofredo de Oliveira Neto nasceu em Blumenau, em 22 de maio de 1951, cursou os estudos superiores na França, durante os anos da Ditadura militar, no Brasil, Brasileiro reside, no Rio de Janeiro, é Professor do Departamento de Línguas vernáculas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, graduou-se em Relações Internacionais pelo Instituto de Altos Estudos Internacionais da Universidade de Paris II (França) e em Letras pela Universidade de Paris III (França), onde também realizou seu mestrado em Letras.  Possui o título de Doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ocupou diversos cargos técnicos em instituições nacionais e internacionais, e integra diversos grupos de pesquisa em Literatura, dentre os quais o comitê de pesquisadores da Association Archives de la Litérature Latino-américaine des Caraibes et Africaines du XX Siècle, ligado à UNESCO. Preside a Comissão de Língua Portuguesa do Ministério da Educação do Brasil e o Conselho Científico do Instituto Internacional de Língua Portuguesa da CPLP, entidades responsáveis pela implementação do novo acordo ortográfico nos países lusófonos.

É autor de romances, como O Bruxo do Contestado (1996), revelação do ano pela Folha de S.Paulo e revista Veja, e Amores Exilados (2011), aclamado pela crítica como importante livro sobre os exilados políticos durante o regime militar no Brasil. Seu livro infantil Ana e a Margem do Rio (2002) recebeu o selo de “altamente recomendável” da Fundação Nacional para o Livro Infantil e Juvenil . Outros livros do escritor são: Oleg e os Clones (1999), Menino Oculto (2005), segundo lugar no 48º Prêmio Jabuti, e Marcelino (2008). Em 2013 foi lançado seu mais recente romance, A Ficcionista[.

Godofredo de Oliveira Neto é Membro Titular da cadeira “Barão do Rio Branco” da Academia Carioca de Letras, membro do PEN Clube do Brasil, da Academia Europeia de Ciências, Letras e Artes (Embaixador para a América Latina) e do Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro.

Entre outras condecorações, recebeu a Medalha Euclides da Cunha da Academia Brasileira de Letras e a Medalha Cruz e Sousa do Estado de Santa Catarina.

Em 2018, foi eleito membro da Academia Catarinense de Letras para ocupar a cadeira 10, cujo patrono é Francisco Antônio Castorino de Farias .

O escritor dirigiu o departamento de Ensino Superior do Ministério da Educação do Brasil (MEC) entre 2002 e 2005 e foi pró-reitor da UFRJ entre 1990 e 1994.

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O que é literatura?

É a vitória do escritor sobre a vida

O que é escrever ficção?

A condição humana não se conforma em ser tão pequena diante das marés, do dia e da noite, dos terremotos, das inundações, da violência humana e, principalmente, não se conforma com a morte. A ficção cria outro mundo, outro mundo é possível (vale para todas as artes).

Escrever é um ato político? Por qual motivo?

É um ato político porque está a serviço da liberdade em todos os sentidos.

Para além do aspecto do ofício, a literatura, de forma geral, representa o quê para você?

Representa abraçar o desconhecido. O texto ficcional, em si próprio, sabe mais coisas do que o escritor que o criou.

O escritor é aquela pessoa que vê o mundo por ângulos diferentes. Mesmo criando, por vezes, com base no real, é outra coisa que surge na escrita ficcional. A ficção, então, pode ser entendida com uma extensão da realidade? Um mundo paralelo?

Não, a ficção não é o real, ela conversa apenas com a linguagem. A ficção é um parasita da linguagem, já disseram.

Quando você está prestes a começar uma nova história, quais os sentimentos e sensações que te invadem?

Medo e respeito.

A leitura de outros autores é algo que influencia bastante o início da carreira do escritor. No seu caso, a influência partiu dos livros ou de algo externo, de situações cotidianas, que te despertaram o interesse para a escrita?

De livros. Flaubert, Machado, Graciliano, Guimarães Rosa, Proust, Shakespeare etc

O que mais te empolga no momento da escrita? A criação de personagens, diálogos, cenas, cenários, narradores….etc?

A criação do personagem narrador, o mais importante de todos na narrativa.

Um personagem bem construído é capaz de segurar um texto ruim?

Se está bem construído, o texto não é ruim.

Entre tantas coisas importantes e necessárias em um texto literário, na sua produção, o que não pode deixar de existir?

Emoção no leitor. Se tem trechos de comida, tem que dar fome, trecho de medo tem que dar medo, trecho erotizado tem que transmitir desejo no leitor, texto psicanalisado  tem que passar angústia e insegurança bem lá no fundo da alma e assim por diante.

Nesse tempo de pandemia, de tantas mortes, qual o significado que a escrita literária tem?

O mesmo que ela tem em todos os momentos da vida. Ela é a única vida realmente vivida, também já escreveram isso.

No Brasil, o ofício do escritor é tido quase com um passatempo por outras pessoas. Será que um dia essa realidade vai mudar? Existem respostas lógicas para esse questionamento eterno?

Há uma excelente literatura no Brasil atual. E numerosa.  Deve haver leitor, não? Está mudando para melhor.

A imaginação, o impulso, a invenção, a inquietação, a técnica. Como domar tudo isso?

A pergunta já responde. Domando tudo isso, como você bem colocou.

O que difere um texto sofisticado de um texto medíocre?

A literatura é criação de formas. Só isso é literatura. A literatura cobre e descobre ao mesmo tempo o mundo

O leitor torna-se cúmplice do escritor em qual momento?

Sempre. O efeito de real num real que não existe provoca a cumplicidade do autor e do leitor.

O leitor ideal existe?

Sim, ele está sempre presente.

O simples e o sofisticado podem (e devem) caminhar juntos?

O simples também é sofisticado se bem operado literariamente

Cite um trecho de alguma obra que te marcou profundamente.

Todo o Memórias Póstumas de Brás Cubas do Machado

Apenas um livro para livrá-lo do fim do mundo em uma espaçonave. O seu livro inesquecível. Qual seria?

Un coeur simple, do Flaubert.

Qual a sua angústia criadora?

É se ver diante da tela e não sai nada. Mas como pondera o poeta, o caminho se faz ao caminhar. A criação se dá criando.

 

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