Por Ney Anderson

A literatura de terror e fantasia está cada vez mais ganhando espaço na mídia. Muitos jovens estão entrando no mundo da leitura por meio desse gênero. Livros com um forte apelo comercial e sem espaço para uma linguagem mais trabalhada e culta. A série do bruxinho Harry Potter da escritora britânica J.K. Rowling já vendeu mais 5OO milhões de cópias e os filmes já bateram a marca de 6 bilhões de dólares em bilheterias. No mesmo caminho vem a saga Crepúsculo da autora americana Stephenie Meyer, que também conseguiu levar a história do vampiro Edward Cullen e da jovem Bella Swan para os cinemas, causando outro frisson, e milhões de dólares para os produtores e editores da saga. Mas, o gênero terror e fantasia, é muito anterior aos apelos midiáticos que estamos presenciando. 


O escritor Edgar Allan Poe foi o precursor da literatura de ficção científica e fantástica no século 19, lançou uma série de livros que estão imortalizados até hoje, entre eles OsCrimes da Rua Morgue, A Carta Roubada, e o mais conhecido de todos, o poema O corvo. Depois de Poe uma série de escritores surgiram e ajudaram a popularizar esse tipo de literatura no mundo inteiro, entre os mais conhecidos se destacam: H. P. Lovecraft, Bram Stoker, Robert Louis Stevenson, Anne Rice e Stephen King. 

Para conversar, sobre esse e outros assuntos, o Angústia Criadora traz uma entrevista com um autor brasileiro de livros de terror que vive em São Paulo: Nelson Magrini.
Entrevista: Nelson Magrini

Um autor deve ter seu público alvo

 

Magrini é uma das apostas da literatura sobrenatural
Esse interesse dos leitores por literatura de fantasia e terror são passageiros?
Se eu me tomar como exemplo, certamente que não! Sempre fui um leitor voraz do gênero – comecei com ficção-científica – e não me vejo mudando. Não que não goste de outros estilos, mas a Literatura Fantástica ainda é meu preferido. Têm pessoas que chamam o gênero de escapismo; eu o chamo de entretenimento. Qualquer romance, mesmo que não contenha elementos sobrenaturais ou fantásticos, é ficção. Não seria, então, escapismo do mesmo modo? Tudo é ficção ou a possui em grande elemento. Qualquer biografia, por exemplo, por melhor que seja o trabalho de pesquisa, envolve opiniões, versões, achismos, “fatos” tido como verdade, mas que não o são, etc. Quanto de ficção há em uma biografia? Ou o fato de não sabermos a “verdade real” sobre acontecimentos, as intenções pessoais e os pensamentos tornam aquele relato menos ficcional?
No fundo, há meio que um consenso entre aquilo que é considerado literatura “real” e ficcional, mas no fundo, a linha divisória não é tão nítida assim.
Literatura Fantástica, com todos os seu subgêneros, proporciona diversão e, portanto, salvo raras exceções, não vejo as pessoas a abandonando com o passar do tempo ou com o envelhecimento. Acredito, sim, em uma procura por qualidade, ou seja, com o passar do tempo, o leitor tem a tendência a se tornar mais crítico em relação ao que procura.

A série “Harry Potter é um fenômeno difícil de ser explicado, mas como você vê toda essa febre em torno do bruxo da britânica J. K. Rowling?

Imagino que serei simplista em minha resposta, pois como você bem disse, é um fenômeno difícil de ser explicado, mas em maior ou menor grau, não foi um fenômeno inédito. Primeiramente, Rowling produziu uma obra de qualidade, e isso é o fator número um. Segundo, personagens carismáticos. Ela sabia exatamente para que público estava escrevendo e o que esse público buscava, o que não quer dizer que buscava um bruxo e tal. Mas que buscava uma aventura que os fizesse voar, que os fizesse vivenciar cada passo dos personagens centrais. E seu grande lance foi, não só ter conseguido tal feito; foi fazer tais personagens crescerem e amadurecerem com seu público. Essa sacada foi genial, embora não saiba dizer se isso foi original. Terceiro, tem muito a ver com o momento em que a obra foi criada, os leitores-alvo cresceram expostos à internet, comunicando-se em tempo real, inteirando-se do que acontecia em torno de assuntos comuns, e vai por aí. Dizer que ela estava no lugar certo, no tempo certo é redundante? Por der, mas não deixa de ser verdade.

Como você vê o preconceito de literatura de terror e fantasia no Brasil?
É uma triste realidade. A literatura de terror e fantasia sofre duplamente. Primeiro, por preconceito de editores e mesmo autores de outros segmentos, que a vêem como algo fácil e escapista. E em segundo lugar, o preconceito pelos autores nacionais desse tipo de literatura, e aí envolve tanto as editoras, como os leitores, apesar de que já está mais do que provado, nos últimos dez anos, que fazemos esse gênero com alta qualidade, onde autores já se destacaram, com várias obras publicadas, e mesmo alguns iniciantes, com um texto de qualidade já no primeiro livro.Com este destaque, alguma coisa começou a mudar, mas ainda falta muito para acabarmos que tal preconceito bobo e sem nenhuma razão de ser.

Qual foi o livro que te despertou para o romancista que viria ser?
Não houve um livro em si, mas sim, centenas deles. Minhas primeiras influências foram escritores de ficção-científica, como Asimov e Clarke, entre muitos outros. Dos mais modernos, sem dúvida Stephen King e Dean Kootz.

Como foi sua estréia na literatura de terror? Sofreu algum preconceito?
Não que eu tenha percebido. Minha estréia foi tranquila e em pouco tempo, recebi o primeiro e-mail, curiosamente de uma garota de Manaus! Fiquei até surpreso, pois nunca imaginei que, em tão pouco espaço de tempo, meu livro pudesse ir para uma região tão longe de São Paulo. É aí que a distribuição representa um papel importante e, com o tempo, descobri que tenho muitos leitores nas regiões Norte e Nordeste. O “pessoal lá de cima” lê muito, o que achei magnífico. No mais, acho que tive sorte, pois nunca tive problemas em dizer que escrevo Terror ou Literatura Fantástica ou de entretenimento. Alguns se mostravam surpresos, mas se houve algum tipo de preconceito, foi de modo bem velado.

Quando está começando a produzir um novo trabalho, qual a preocupação inicial, o que pensa em fazer primeiro? Normalmente, minhas idéias aparecem através de uma cena ou tema, que me vem à cabeça. Se a idéia se fixa e resolvo desenvolvê-la, trabalho de modo geral com a trama, na maioria das vezes, não a tenho por inteira – ela se desenvolve a medida em que escrevo. Um dos primeiros passos é desenvolver os personagens centrais, apenas poucas linhas, nada muito complexo, nomes e características, se necessário à trama. E alguma pesquisa, caso queira descrever algo específico, que pode variar de uma cidade a uma doença, por exemplo. No geral, entretanto, gosto de criar a maior parte do material de minha imaginação. Por exemplo, quase toda a ação de Relâmpagos de Sangue se passa em uma cidade imaginária, Germinade, no interior de Minas Gerais. Gosto de criar tais coisas

Você escreve diariamente? Qual sua rotina?
 Minha rotina é não ter rotina. No geral, escrevo em qualquer hora vaga, ou não. Escrever diariamente só acontece quando estou em pleno desenvolvimento de um livro, ou o prazo da editora está apertado. Normalmente, escrevo, depois pode leva alguns dias para maturar uma idéia ou sequência, aí escrevo de novo, e assim vai seguindo.
Já criou alguma história apartir de uma matéria de jornal?
Não cheguei a criar uma história, mas já usei fatos reais noticiados. Por exemplo, na sequência de ANJO A Face do Mal, cujo original já está na editora, cito o trabalho de dois cientistas que demonstraram que o Homem de Neandertal foi uma espécie à parte dos humanos. Eu citei o fato e as referências, romanceei em cima, e aproveitei para uma das idéias da trama. No mais, creio que isso pode acontecer a qualquer hora. Tudo é fonte de inspiração. Minha ficção surge de uma idéia / cena que aparece em minha mente. Às vezes, o que surge primeiro é o título, como ocorreu com Relâmpagos de Sangue. No geral, nunca tenho uma visão total da trama, e somente consigo desenvolvê-la aos escrever. De certo modo, preciso produzir para saber como a história se desenrolará. Curiosamente, alguns leitores já me disseram que a maneira como minha criatividade se manifesta é assustadora, pois parece que as histórias têm vontade própria. Pensando bem, a idéia daria uma ótima trama de terror!
Quais são seus maiores medos na hora que está produzindo?
Curioso, está aí algo que nunca pensei. Aliás, nem sei se um autor deve considerar tais receios, ou tê-los, na hora de produzir. Creio que qualquer autor deva ter em mente, na hora de criar, seu público alvo – isso é praticamente uma imposição do mercado e das editoras – e o que eles esperam de um bom livro. Mas se o autor começar a duvidar da obra em si, seja na trama, na qualidade do texto, ou qualquer outro entrave, melhor parar e começar outra. O principal fã de um autor deve ser ele próprio. Se ele duvidar de sua obra, quem irá acreditar nela?

Qual o maior erro que um escritor pode cometer?
 Literalmente falando, não procurar melhorar sempre a qualidade de seu trabalho, bem como a escrita. Ter medo ou vergonha de usar um dicionário ou gramática. Pior, ter orgulho em não usá-los!

O que é preciso para que uma literatura de terror e fantasia possa dar certo?
Antes de qualquer coisa, ter qualidade de trama e de escrita. Pecar em algum desses quesitos é fracasso garantido. Além disso, o livro tem de empolgar e prender o leitor. Pode-se colocar filosofia por detrás da trama, mas que caiba no contexto e nada exagerado. Extensas e exaustivas passagens podem até agradar a alguns, mas certamente não à maioria.
Outro ponto, por mais fantasioso que seja a história, ela tem de ter verossimilhança. Não importa quão louca seja uma passagem ou fato; na cabeça do leitor tem de parecer factível, possível.
Em relação ao terror, além disso tudo, um bom livro dá medo, muito medo! Aqueles que querem escrever terror têm de fazer os leitores olharem para os lados ou para os cantos, desconfiados, de vez em quando. Fazê-los dar aquela parada na leitura, quando a sós, ou quando escutam um barulho que não conseguem identificar.
Escrever terror é meter medo, de tal maneira plausível, que faça o leitor se assustar com as páginas do livro. Um livro de terror que assusta, não dá errado.

Na sua visão quais são os livros essenciais na literatura de terror e fantasia?
São muitos e nem de longe eu conseguiria citá-los. No terror em específico, gênero no qual me enquadro, nem vou relacionar os clássicos, Stoker, Poe, Lovecraft, etc – só aqui, já deixei de comentar um monte. Dos atuais, repito, Stephen King e Dean Koontz. Recomendo de King, Christine, O Apanhador de Sonhos, Os Estranhos (Tommyknockers), Trocas Macabras, entre outros. De Koontz, A Caso do Mal e Meia Noite.
Dá para sobreviver de literatura de terror no Brasil?Certamente que sim, mas são raros os que conseguiram, ou melhor, talvez seja mais correto dizer aquele que conseguiu, pois somente conheço o André Vianco que está nesse patamar. Mas a dificuldade vem exatamente daquilo que foi discutido ma primeira questão. Se houvesse mais reconhecimento, tanto por parte das editoras, como dos livreiros e leitores, os autores nacionais de qualidade facilmente conseguiriam viver da Literatura, que seguramente é o sonho da maioria.André Vianco é um fenômeno da literatura de terror no Brasil,por quê?
Bom, esta é uma questão complexa e certamente não existe um só por quê. Em realidade, vejo como uma série de fatores. Nem vou entrar no tema qualidade. Obviamente, suas obras têm qualidade e o André é um grande autor, assim como não entrarei no mérito do tema vampiros, que nunca deixou de estar em relativo destaque. Contudo, quando ele começou, era igual a qualquer outro que está iniciando hoje. A seu favor, ele contava com tenacidade, pois já havia bancado três obras independentes e as levava em livraria, oferecia aos amigos, etc. Com isso, ele conseguiu, mesmo que diminuto em termos empresariais, um público que o conhecia. Em seguida, há algo que ele nunca escondeu, e que ele próprio já me falou mais de uma vez: há o fator sorte, aquela sorte que caminha junto de qualquer campeão, seja este um escritor ou um piloto de Fórmula 1. Nas palavras do André, ele estava no lugar certo, na hora certa, quando o editor daquela que viria a se tornar a Novo Século, procurava alguma coisa nova para publicar. E achou a edição independente de Os Sete e resolveu falar com o Vianco. Resultado? Os Sete foi o primeiro livro publicado pela Novo Século. Bom, você pode me perguntar como isso ajudou o André a se tornar um vencedor, afinal, tal pode e acontece com outros. Creio que aqui o que ajudou bastante foi a necessidade da editora de se firmar, ou seja, vários títulos do André foram publicados em curto intervalo de tempo. Outro ponto é que, mesmo para um autor desconhecido na época, não sei exatamente o que a editora fez, ele recebeu algum destaque nas livrarias. Por exemplo, quando comprei Os Sete, ele estava em uma mesa, no canto da frete e com uma pilha de uns 15 exemplares! Nunca mais vi algo assim com qualquer autor nacional estreante. O segundo que a editora lançou, alguns meses depois, foi O Senhor da Chuva que, embora não estivesse na vitrine, estava na primeira mesa, também uma pilha de uns 10 ou 15, e voltado para o vitrine, ou seja, era visível do lado de fora da loja! Está aí algo que também nunca vi em relação a autores iniciantes. Seja como for, o que quero salientar é que, fosse por força da necessidade da editora, fosse pelo que fosse, quando se dá destaque para bons autores nacionais, eles vendem e criam um público fiel. Talento é fundamental, mas pouco consegue se você não chega aos leitores, se a esmagadora maioria sequer sabe que você existe ou tem um ou mais livros publicados. Agora, quando se investe em talento, quando há o destaque, a coisa muda de figura. O sucesso do André, mais que nunca, demonstra tal fato.
Você acredita que uma criança que seja apresentada desde cedo aos mundo dos livros,obrigatoriamente se tornará um adulto leitor?
 Não sei se cabe o termo “obrigatoriamente”, mas creio que muitos, talvez a grande maioria, terá tal tendência.

A literatura de fantasia e terror pode ser uma porta de entrada para os jovens leitores conhecerem a literatura clássica, ou isso não acontece?
Concordo que pode ser, mas “pode” não implica em “será”. Como respondi há pouco, creio que a grande maioria que lê fantasia e terror se manterá em tal gênero, mas muitos, com certeza, mesmo sem abandoná-lo, se sentirão despertados para conhecer outros estilos. Na realidade, se a fantasia e o terror criarem o hábito da leitura, todas as demais portas estarão abertas, ao menos, em potencial. Explorá-las ou não, será de cada um.

Muita gente está escrevendo na internet, isso ajuda a literatura ou o que estão fazendo não é literatura?
Penso que ajuda, sim. A internet propiciou um meio rápido de pessoas levarem suas criações ao conhecimento de outras, em um número bastante extenso. Nesse sentido, se tornou fácil escrever e divulgar, o que ajuda não só em relação ao hábito da leitura, mas também, a despertar o hábito da escrita.
Contudo, aproveitando a questão, não vou entrar no mérito se o que fazem é ou não literatura. Pelo que já li a respeito, nem os especialistas na área se entendem ou concordam.
Porém, penso que muito mais importante do que tal debate, é vermos se tais textos têm qualidade, ou se apontam para uma evolução.
Infelizmente, salvo poucas exceções, o jovem que escreve tem um Português, se muito, sofrível! Também faço trabalhos de revisão, leitura crítica, etc, e a maioria dos originais que recebo apresenta uma escrita de péssima qualidade.
A questão é: quantos desses autores de internet usam suas próprias criações para evoluírem como escritores? Posso dizer que conheço autores consagrados na internet, com grande carisma, que chegaram a publicar por editoras, e que… não evoluem nada, em questão da Língua Portuguesa!
Acredito que essa falta de qualidade de escrita, esse desconhecimento da gramática básica, contribui muito para que tais textos não sejam considerados sequer uma “literatura popular”. Esta é uma questão delicada e que merecia um debate sério entre educadores, pois reflete diretamente a péssima qualidade do ensino básico.
Como um país pode ter grandes escritores, em número crescente, se o desconhecimento básico da língua é geral? E aqui, não me refiro a um Português erudito, mas sim, elegante, variável, rico. Será que entre um milhão de “mas”, ninguém lembra de usar um “todavia” ou um “contudo”? Toda a ação tem de ser narrada através do verbo “estar” mais um gerúndio – estava andando, estava correndo, estava olhando?
Veja ao ponto em que chagamos: estou falando de uma família de conjunção e de… conjugar verbos!
Um médico pode desconhecer medicina? Um engenheiro pode desconhecer seus cálculos. Como alguém pode querer ser escritor sem conhecer o básico da língua?
Escrever na internet aumentou suas vendas em livros impressos, ou o público é diferente?
Na realidade, não só escrever, mas principalmente divulgar minhas obras, as tornaram mais conhecidas e, sem dúvida, ajudou nas vendas. Escrever textos inéditos ou republicar material é uma parte integrante, de qualquer autor, na divulgação de seu trabalho. Muitos leitores acabam por tomar conhecimento primeiramente através desse material e depois, chegam a conhecer os livros em si.
O inverso também é válido, ou seja, aqueles que acompanham e aguardam com ansiedade um novo trabalho impresso, adoram ler novidades publicadas na internet.
De modo geral, é uma simbiose muito grande, e a maioria dos leitores acompanha os dois meios, digital e impresso.
Você está publicando uma série de fantasia em seu blog, fale um pouco sobre ela.
 Na realidade, estou republicando minha minissérie, em dez partes, O Portador da Luz. Esse trabalho, de mistério e suspense, tem como tema fundamental, um dos grandes males da humanidade, o fanatismo e suas desmedidas consequências. A série foi publicada originalmente no Fontes da Ficção, ao longo de dez meses, e fez muito sucesso à época. Convido todos a lerem, pois traz um final inesperado, que poucos esperavam.
Assim que terminar a postagem de O Portador da Luz, trarei outro conto que poucos leitores conhecem, assim como alguns inéditos.
Você é da corrente que acha que o livro de papel vai acabar? Para dizer a verdade, não posso dizer que sou de alguma corrente, ou que torça por uma ou outra. Quem quer evoluir tem de se adaptar à tecnologia ou meios que surgem. A internet é um ótimo exemplo, assim como o mp3 e por aí, vai.
Penso que a tendência do papel é diminuir, se os livros digitais se popularizarem, que está diretamente ligado ao barateamento do custo do hardware de leitura. Esse mesmo fator é que irá determinar o aumento no lançamento de títulos sob essa mídia.
Se isso será suficiente para extinguir o livro impresso, é difícil dizer, mas com o tempo, a tecnologia digital sempre acaba por se mostrar mais barata e, principalmente, a demandar menos recursos de matéria-prima básica e eliminar processos produtivos que, por mais ecológicos que forem, sempre apresentarão resíduos e sobras. Um ótimo exemplo é o mp3 frente ao Cd. Toda a mídia material foi eliminada, restando basicamente o player e os arquivos.
Talvez no futuro, um livro impresso seja algo raro e nostálgico, tal qual um carro a gasolina ou derivados de petróleo.Pretende lançar algum romance em e-book?
Por mim, certamente que sim, mas isso é estratégia da editora. É ela quem decide se os títulos sairão sob essa mídia, embora penso que mais cedo ou tarde, isso acontecerá com todos os títulos. O e-book veio para ficar, é só uma questão de tempo.
Em relação a publicar de forma independente, no formato e-book, por hora não penso nisso, exatamente por meus vínculos editoriais.

Acredita em oficinas literárias?

Sou uma pessoa bastante pragmática e penso que sim, oficinas literárias podem mostrar algumas coisas para novos escritores e mesmo, para não tão novos. Mas não creio nos milagres que os defensores apregoam. Para mim, é similar ao desenvolvimento da criatividade. Podemos aprender várias técnicas que venham nos ajudar, mas ninguém tornará uma pessoa criativa, assim como não creio que oficinas criem escritores. E como em tudo, há um grande problema. A questão de se saber qual oficina dará aquilo que se espera? Eu ministrei cursos de Gestão Empresarial por duas décadas e convivi com muitos palestrantes, instrutores, etc. Assim como nas oficinas, estamos nos referindo e exercitando a arte de lecionar, e nesse caso não basta um ou mais nomes de destaque; a questão não é apenas se a as oficinas têm valor ou não, mas sim, como identificar aquela que realmente é de nível, daquela que é uma roubada?

Já pensou em ministrar alguma?
Sim, já cheguei a pensar, mas ainda não viabilizei. Talvez de andamento, ainda este ano, vamos ver. 

Na literatura em geral,você acompanha os novos escritores tanto de terror como em outros gêneros?

Dentro do Terror, até que sim, mas quando compro um livro, de autor desconhecido, não estou preocupado se ele é novo (iniciante) ou não; neste caso, o livro tem de mexer comigo de alguma forma, seja pela capa, que influencia muito, digam o que digam, algum texto de chamada ou trecho em orelhas ou quarta capa. Se o livro for bom, o autor me conquista e aí, normalmente, passo a prestar atenção a tudo que aquele autor publicar. Já em relação a outros gêneros é bem mais difícil, até por falta de tempo, ou seja, dedico o pouco tempo livre aos gêneros que aprecio.

O que você gostaria que seus livros provocassem nas pessoas?Bom, eu escrevo para as pessoas se divertirem, embora gosto de, sempre que a trama permite, levantar certas questões que fazem o leitor pensar. Contudo, como me defino como um escritor de Terror, he he, quero mesmo que elas sintam muito medo! Talvez meu livro que mais reflita tal postura seja Relâmpagos de Sangue, uma obra que já fez muitos leitores perderem o sono ou terem, literalmente, pesadelos com a trama. Curioso como que, para mim, esta faceta ocorreu naturalmente, ou seja, eu não preciso pensar muito para conseguir tal clima; ele flui com naturalidade dentro de minhas obras. Mesmo meu último livro, Os Guardiões do Tempo que, diferente dos anteriores, é uma ficção com muita aventura e humor, voltada para todas as idades, não deixa de lado o mistério, suspense e, neste caso, uma pitada de terror, mas como alguns leitores me confidenciaram, que pitada! Há um trecho, onde menos se espera que é de arrepiar os cabelos.

Qual um conselho que você pode dar para os jovens escritores?Leiam muito, mas muito mesmo. No geral, todo bom escritor é um devorador de livros. Escrevam sempre, quanto mais, melhor. Fiquem atentos para o Português. Ninguém precisa ser erudito, mas qualquer um consegue ter uma escrita elegante. Não tenham medo, muito menos se envergonhem de comprar e consultar uma gramática e dicionário. Usem sinônimos, sejam ricos. Estes são os pequenos passos iniciais para que o jovem escritor apresente um trabalho profissional a um editor. No mais, tenham visão de seu público alvo, isso conta muito e, se possível, quando forem às editoras, tenham mais de uma obra para apresentar. Isso mostra continuidade. Por fim, esqueçam as TRILOGIAS (!!). Ninguém irá publicar uma trilogia de autor iniciante e desconhecido. Surpreenda os editores. Em vez de uma trilogia, leve três livros diferentes e independentes. Isso irá contar muito mais pontos.

 

 

 

 

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