Por Ney Anderson
Muitos escritores ficaram conhecidos por retratarem em seus livros a cidade onde moram ou moravam. Dalton Trevisan, recluso escritor, sempre jogou nas linhas da ficção uma Curitiba quase sempre sombria. Quem não se lembra dos livros de Érico Veríssimo, em especial a Trilogia O tempo e o vento? Um verdadeiro dossiê literário sobre a história do Rio Grande do Sul. Jorge Amado também mostrou para o mundo sua Bahia querida. Talvez seja esse amor por um lugar que faz o escritor sair pelas ruas, procurando personagens para contar a história desses lugares.

Pode ter sido por causa dessa paixão pelo local onde habita, que o cineasta e escritor Wilson Freire, criou um romance onde o pano de fundo é tão importante quanto a história em si. A mulher que queria ser Micheliny Verunschk (Editora Edith, 85 pgs. R$ 20,00) é exatamente a personificação de uma ode à cidade que desperta sonhos e alimenta desejos. Micheliny Verunschk é uma mulher obcecada pela vida, moradora do Bairro do Recife, vê o mundo pela janela enquanto serve-se aos marujos que chegam. Com capítulos curtos, como se fossem cenas de filme, a trama vai se desenrolando entre os dias no cais e a vontade de ser escritora, quando conhece um homem que lhe encaminha para uma oficina literária. Ela é tão temperamental que só fica alguns minutos no local, tamanha é a sua falta de calma para entender o mundo que está ao seu redor. 

O Recife vai aparecendo como uma cortina espessa de fumaça, onde o caos das pessoas passando; do trânsito barulhento; dos vendedores ambulantes, torna tudo isso harmonioso, ainda que loucamente real. Um livro que revela muita mais do quê esconde, trazendo para cada um dos habitantes dessa metrópole um exemplo nítido e bastante claro, a importância de viver no meio do furacão, talvez para dar mais sentido para os dias na cidade quem não para nunca. É isso o que a personagem criada por Wilson Freire deixa transparecer. O subtítulo do livro fala muito: Rap rápido de uma dama do cais. De fato: rápido, salgado e por muitas vezes, cru.

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