É a hora de colocar o filho no mundo. Todos esperam isso, principalmente os pais. Depois do flerte, namoro, noivado, casamento e lua de mel, é a vez do tão sonhado bebê nascer. O filhote, nesse caso, é o livro publicado. Nesse último texto para o Eu escritor, Raimundo de Moraes fala das novas tendências de publicação, através do mercado digital e dos agentes literários, muito importantes em países como os Estados Unidos, e que estão ficando cada vez mais forte no Brasil. Outros assuntos como as dificuldades em ser lançado por grandes editoras e a concorrência, que também assola o mundo dos livros, também são abordados no artigo.
Boa leitura!
Por Raimundo de Moraes
A maioria dos escritores quer ser lida. Pelo menos todos os que eu conheço querem. Publicar e divulgar seu trabalho atualmente não é mais uma corrida de obstáculos como era antigamente. Existem várias gráficas rápidas – on-line ou provavelmente na cidade que você mora – que oferecem serviços de pequenas tiragens de livros, que incluem também elaboração de layout e até revisão de texto antes da impressão final.
Cresce a tendência de publicar apenas a versão digital da obra, pois diminuem os custos e geralmente as editoras de livros digitais se comprometem também a divulgar seu catálogo e disponibilizá-lo para venda – e o autor, claro, faz a parte dele, divulgando seu filhote nas redes sociais. Seja em PDF, E-pub, Mobi, audiobooks ou videopoemas, a internet democratizou bastante a circulação de títulos e novos nomes. Segundo a Associação Americana de Editores, em 2012 a venda de livros digitais representou 22,55% do total produzido nos Estados Unidos, e a tendência é aumentar a cada ano. Em breve poderá existir uma paridade – já que a tendência é mundial – que edições digitais e edições impressas fiquem no 50%/50%.
No início da carreira muitos escritores que hoje são referência pagaram do próprio bolso os custos dos seus primeiros livros. Manuel Bandeira e Drummond fizeram isso, Euclides da Cunha e Rubem Fonseca também. É preciso ter muita lucidez ao pensar que, de cara, alguma editora irá publicar um escritor iniciante. A não ser que ele ganhe um importante prêmio ou tenha um forte QI – Quem Indicou. Por outro lado, alguns segmentos estão sempre procurando novos autores. Os de autoajuda, por exemplo, e a nova moda chamada chick-lit – a literatura meio romântica, com salpicadas de erotismo, geralmente com heroínas tipo novela das seis.
E por que estou fazendo todo esse preâmbulo? Porque acho que, dentro de uma oficina literária, a questão de publicação e circulação da obra também deve ser abordada e comentada entre os seus participantes. Por isso acho importante pôr na berlinda algumas informações:
1 – Existe um encalhe enorme do que é lançado e cuidado para não entrar no prejuízo ou em cooperativas que oferecem publicações em coletâneas. Às vezes não compensa o dinheiro investido, o livro não circula nem em parentes quanto menos entre críticos e possíveis leitores. No início deste ano surgiu uma notícia sobre uma grande editora que estava com milhares de livros em seu depósito, mofados e encalhados. Dá pena, né?
2 – A concorrência aumentou vertiginosamente. Mesmo com tanto sofrimento dos escritores brasileiros, muita gente quer ser a estrela de uma noite de autógrafos, nem que seja uma vez na vida. Por causa da concorrência, tem autor usando melancia na cabeça, dando entrevistas polêmicas, dizendo que inventou um estilo, copiando uma tendência que irá sumir daqui a um ou dois anos, fazendo lobby pesado entre os que já estão conquistando um espaço na mídia. Prepare-se: o mundo literário atualmente não é um chá das cinco com bolinhos.
3 – Mesmo que o Brasil atualmente seja considerado um país emergente, nunca esqueça que o mercado editorial brasileiro possui um grande obstáculo: o idioma. A vida de um livro publicado em português é diferente de um publicado em espanhol ou inglês. E o caminho inverso também é verdadeiro: coisas ótimas publicadas nesses idiomas demoram pra ganhar versão na língua de Camões – ou nunca, nunquinha, irão ganhar. Pra quem fala outro idioma e consegue pesquisar obras de outros autores geralmente encontra boas surpresas e acaba se perguntado: por que isso nunca chegou ao Brasil?
Encerrando a nossa conversa de hoje, gostaria de mencionar os agentes literários, que nos países mais desenvolvidos são peça importantíssima na contratação e marketing de autores novos e consagrados. Os agentes já começam a ganhar espaço também no Brasil. Eles analisam quais são as melhores propostas de contrato para seus clientes, coordenam as ações de divulgação, fazem a ponte entre autor-editora-imprensa. Um bom agente literário pode lançar um escritor ao estrelato mundial, como foi o caso de Albert Zuckermann, que ao ler O buraco da agulha farejou o talento de Ken Follett e a partir daí tornou-se seu conselheiro e empresário.
Portanto, caro(a) escritor(a), apesar das variadas opções de publicar e espalhar seus filhotes pelo mundo, a luta é permanente quando a questão é manter a qualidade e ter um reconhecimento garantido no presente e no futuro. Um pouco de sorte ajuda também. Gostaria de dizer que talento e trabalho são as coisas que pesam mais. Mas não é bem assim. A gente vê muita coisa ruim na lista dos mais vendidos. Por outro lado, isso demonstra que nem sempre o erro está no autor. Se um lixo vende, é porque alguém quer comprar.
Um escritor sério, que escolheu esta árdua carreira como ofício diário, é um Dom Quixote lutando contra moinhos de vento que parecem monstros. E ouso dizer que nesse ofício, além de coragem, é sempre bem-vinda um pouco de loucura. Aquela que faz a gente nunca desistir dos nossos sonhos.
Fraterno abraço. Sucesso, disciplina e boas oportunidades para você.