Foto: Divulgação/ Cia das Letras
Por Ney Anderson
O alemão Daniel Kerlmann, 36, cria um jogo de complexas histórias onde tudo parece se prender no conceito de que qualquer coisa pode virar ficção. O livro Fama – um romance em nove histórias (Cia das Letras, 159 pgs. R$ 39,50) nos traz personagens que cruzam entre o real e o ficcional. Seria um clichê criar um romance com histórias entrecruzadas, no entanto Kehlmann é um escritor hábil e nos passa uma ideia muito bem vinda e que todos os jovens escritores deveriam tomar para si: criar o seu próprio universo. Afinal de contas, tudo já se falou na literatura, o que muda são as visões particulares de cada autor. É dessa forma que um livro pode alcançar êxito ou não. Kehlmann nos mostra uma nova visão sobre um cotidiano barulhento, apressado e com todas as suas crises modernas.


Os personagens de “Fama” parecem estar preocupados com um destino incerto tal como acontece na vida real, (Por vezes pensamos que iremos encontrar esses personagens ao dobrar uma esquina ou tomando cervejas em algum bar). No capítulo “Rosalie Viaja para morrer”, a personagem central descobre uma grave doença e tenta convencer o autor que a criou a mudar o final da história e deixá-la viva e com saúde; esse mesmo autor aparece em vários outros capítulos em menor dose. Outras histórias interessantes permeiam a obra, como é o caso do ator Ralf Tammer no capítulo “A saída”, que para de receber ligações no celular, enquanto essas ligações estão indo parar em outro capítulo: “vozes”. Kehlmann cria um labirinto onde a menor falta de atenção faz qualquer leitor desatento se perder nesse jogo de esconde-esconde. 

Alguns personagens do livro são escritores, que parecem criar o livro sem a ajuda de Daniel Kehlmann, tal é a força narrativa desse jovem autor alemão que está fazendo sucesso na Europa e ganhando prêmios importantes.

 

“Fama” é um livro muito bem construído, com uma linguagem simples sem ser simplória e banal. Leve na sua forma e complexo no seu conteúdo. Daniel Kehlmann amarra todas as histórias de uma forma ímpar, não se perde em momento algum (coisa normal entre autores menos hábeis) e mostra que na literatura tudo pode e nada pode, depende da força criativa de cada escritor.

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