Por Ney Anderson

Essa pergunta sempre me fazem, é praticamente inevitável não ouvir esse questionamento. O que eu acho sensacional, porque mostra que a dúvida está intrinsicamente ligada com a vontade de ler.  Só vou contar uma historinha rápida, antes de passar algumas dicas. Eu não venho de uma família de leitores. Mesmo incentivado na infância para a leitura de livros obrigatórios na escola, não sentia a necessidade de ler. Achava um desperdício de tempo ter que ficar deitado por algumas horas passando as páginas de um romance. Preferia, claro, jogar futebol, vídeo game com grupos de amigos e fazer diversas outras atividades lúdicas. Até o dia em que um desses amigos, depois de uma partida de futebol de barrinha, me chamou para ir comer um lanche em seu apartamento.

Tomei um susto quando vi uma estante cheinha de livros dentro do quarto dele. Eu tinha nessa época por volta de dez/onze anos e fiquei realmente impressionado. Como uma criança da mesma idade que eu tinha tanto interesse por literatura? Fui então apresentado por esse amigo ao Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, em edição para jovens. Como eu iria passar o final de semana na casa dele, resolvi começar a ler depois do jantar. Foi uma madrugada incrível, porque eu viajei com o fidalgo e o fiel escudeiro Sancho Pança atrás da amada Dulcinéia. Praticamente não dormi e quando isso aconteceu eu sonhei com aquela história mirabolante, cheia de loucuras e alegrias, monstros em forma de moinhos, além de ter ficado triste com o final da obra. Tanto pelo destino do personagem quanto pelo término do livro. A partir dali uma cortina se abriu, me mostrando um outro lado que eu não imaginava que existia. Um mundo novo e maravilhoso: o universo mágico da leitura.   

Como eu não podia comprar livros, comecei a pegar emprestado na biblioteca da escola. As professoras até estranharam no começo a minha nova rotina. Pegava três exemplares e devolvia quase sempre antes dos quinze dias de empréstimo. Acho que nesse começo cheguei a ler por volta de 120 livros por ano. Sei disso porque o diretor na época veio me parabenizar. Eu nem estava preocupado com número, apenas em saciar a minha sede de histórias. Por tabela, outros amigos foram contaminados pela mesmo “vírus”. Justamente porque eu conversava sobre os romances que estava lendo, despertando a curiosidade deles. A biblioteca da escola passou a ter um fluxo melhor. Além mim, lógico, existiam outros jovens que gostavam de ler. A união de forças foi interessante. Fazendo a diretoria renovar o acervo. Nesse primeiro momento eu lia todo tipo de livro. Desde romances românticos até os de terror. Mas a minha predileção mesmo era as histórias policiais. Agatha Christie e Sidney Sheldon dormiam constantemente em minha cabeceira. Meus pais ficaram preocupados, porque eu não podia dormir sem saber os verdadeiros assassinos. E eu descobria quase sempre com o raiar do dia….rsrs

Hoje não consigo mais passar a madruga lendo. A rotina de adulto descarta essa possibilidade mesmo nas férias. Mas a loucura pela leitura me fez querer ser jornalista e escritor. Sobretudo quando entrei para a oficina de Raimundo Carrero. Fiquei quatro anos estudando clássicos e contemporâneos na companhia de outros loucos por ficção. A partir dali pensei em ser também crítico literário. O site Angústia Criadora surgia ali. Hoje com a extensão dessa página no Instagram e Facebook.

Mas desde o começo eu tinha uma ideia muito clara. Não escreveria sobre TODOS os livros do mundo. Só os que eu realmente tinha gostado. Depois aumentei um pouco mais a quantidade de exemplares analisados.

Hoje a minha meta de resenhas é por volta de quarenta livros por ano. Mas leio algo em torno de sessenta. Mesmo assim não é tarefa fácil. Ler e escrever demandam tempos distintos, seja ele em qual plataforma for. Esse texto, por exemplo. Já teria lido tranquilamente uns cinco contos, ao invés de escrevê-lo. Por experiência própria listo algumas dicas de como ler mais. E, consequentemente, melhor.

– Leia todos os dias – se quer ler mais o conselho principal é esse. Imagine que você quer aprender a dirigir e resolve pegar um carro uma vez por mês. Não vai aprender a dirigir direito. Não precisa ser um sofrimento. Leia tranquilamente. Lendo cinco páginas por dia é possível concluir um livro inteiro no mês.

– Leia em qualquer lugar – pode parecer clichê. Mas é a pura verdade. Aproveite para ler durante aquele tempo na fila do banco, esperando o ônibus, avião, barco, no banheiro, na praia, antes de uma sessão de cinema ou teatro etc. Os dois lugares onde leio mais são justamente no ônibus e no banheiro.

– Procure leituras que te façam bem – quando digo isso não estou falando de livros medicinas ou de autoajuda. Embora eles podem entrar no pacote sim, por que não? Falo sobre livros que você gosta de ler. Assim como eu gostava (e ainda gosto) dos policiais e de terror. Outros tipos de livros irão surgir como consequência da rotina.

Frequente bibliotecas públicas, livrarias e sebo – o simples hábito de entrar em bibliotecas, livrarias e sebos vai te fazer encontrar coisas que não estava imaginando. Tem uma máxima entre os leitores, que sempre existe um livro esperando uma determinada pessoa. Isso só acontece, entretanto, se você frequentar esses espaços. Os sebos online ajudam bastante nesse quesito.

Faça parte de grupos de leitura – os clubes de leituras te ajudam a ler um livro específico em conjunto com outras pessoas.  Isso é maravilhoso. Cada participante vai te passar a ideia do texto lido a partir da experiência da própria leitura. Assim, o entendimento geral da obra se torna muito mais amplo e rico. Lembre-se, cada leitor tem uma percepção diferente do livro que leu.  

Participe festas, festivais e bienais – Se pretende ser um leitor antenado não deixe de frequentar os diversos eventos de literatura. Além de ter a opção de comprar exemplares baratos, vai poder ouvir conversas com autores de vários lugares do país e do mundo, com experiências de vida em torno da paixão pelos livros. Vai te dar mais vontade ainda de ler outras coisas.

Lançamentos – assim como o exemplo anterior, é o momento de você conhecer autores e leitores. Além de novas obras, claro.

Troca de livros – não é difícil encontrar eventos de troca de livros. Eles te possibilitam encontrar exemplares fora de catálogo e trocar experiências com gente apaixonada por literatura. Além de não gastar um centavo com isso. Já que é um evento de escambo. Você pode também fazer essa atividade entre amigos.

Oficinas literárias – uma boa oficina literária não te ensina apenas a escrever, mas a ler melhor. Na oficina de Raimundo Carrero (e em outras que frequentei) eu entendi o que era literatura e os mecanismos que envolvem um texto de ficção. Se na minha leitura do Dom Quixote uma cortina se abriu na minha frente, na oficina eu pude entender como funciona a magia por trás dela. A criação como ela é, por assim dizer. Costumo dizer que foi uma universidade independente de criatividade.

10º Leia jornais, revistas, sites e blogs de críticas literárias, redes sociais sobre livros e sites de editoras – É verdade que os jornais e revistas que falam sobre literatura são poucos. Mas existem opções interessantes. O Rascunho, de Curitiba; Suplemento Pernambuco; jornal RelevO; Revista Quatro Cinco Um e algumas outras. E também espaços na internet, como esta página no Instragram e sites de resenhas literárias, a exemplo do Angústia Criadora. Esses ambientes na rede são importantes para encontrar análises qualificadas de obras variadas. Além disso, os sites das editoras oferecem o catálogo dos lançamentos. Muitas vezes disponibilizando o primeiro capítulo de muitas obras.

Bônus 1

11º – Leitores digitais – existem aparelhos de leitura dos mais variados tipos. Os E-readers. Entre eles o Kindle, da Amazon; Kobo, da Livraria Cultura e LEV, da Livraria Saraiva. Eles te oferecem carregar milhares de livros em poucas gramas. Servem para quem viaja muito ou é professor. E até para quem não tem espaço físico para guardar livros. Digo sempre que os e-readers auxiliam a experiência da leitura, mas nunca vão acabar com os livros tradicionais, como muita gente acha. Se não tiver como desembolsar uma grana para comprá-los, você pode baixar aplicativos intuitivos para ler no smartphone. A Amazon disponibiliza um ótimo aplicativo, onde é possível comprar obras e também degustar capítulos.  

Bônus 2

12º Não se cobre muito – todas essas dicas são apenas experiências que eu mesmo faço. Mas você não precisa se sentir culpado se não estiver lendo tanto quanto queria. Leia o que gostar e no ritmo que quiser. Eu mesmo leio bem menos hoje do que antigamente. Embora sempre esteja com um livro, é quase uma extensão da minha pessoa….rs. É inevitável. Sem um livro do lado me sinto nu. Mesmo que eu não consiga ler, estou lá com ele esperando um tempinho para fazê-lo. Porque o maior conselho, entre todos esses que eu dei é, simplesmente: LEIA. Os ganhos são enormes.

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