Fotos: divulgação

Por Ney Anderson

Em homenagem aos 10 anos do Angústia Criadora, escritores de todo o país falaram com exclusividade ao site sobre literatura, processo criativo, a importância da escrita ficcional para o mundo e para a vida e diversos outros assuntos. Leia a entrevista a seguir com o convidado de hoje. Divulgue nas suas redes sociais. Acompanhe o Angústia Criadora também no Instagram: @angustiacriadora e Facebook: https://facebook.com/AngustiaCriadora

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Whisner Fraga é mineiro de Ituiutaba, autor dos livros As espirais de outubro, romance, Nankin, 2007, Abismo poente, romance, Ficções, 2009, Lúcifer e outros subprodutos do medo, contos, Penalux, 2017, O privilégio dos mortos, romance, Patuá, 2019, entre outros. Participou das antologias Os cem menores contos brasileiros do século, organizada por Marcelino Freire e Geração zero zero, organizada por Nelson de Oliveira. Foi traduzido para o inglês, alemão e árabe. O que devíamos ter feito é sua décima-primeira obra publicada. Whisner Fraga também é crítico literário, fala sobre livros nacionais no canal Acontece nos Livros, no YouTube. 

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O que é literatura?

Literatura, para mim, é arte e entretenimento, para começar. A literatura, como arte, é transgressão e, como entretenimento, é prazer estético. Literatura é um ajuntamento de símbolos que carregam, em sua gênese, o estigma do sublime e do espanto.

O que é escrever ficção?

É sofrer. Nunca senti nenhum prazer no processo de escrita, que é doído, difícil, desafiador. É um processo lento, moroso, cheio de armadilhas, de traições. Então por que continuar escrevendo? Há vários motivos, mas por vaidade, sobretudo.

Vocação, talento, carma, destino…..o escritor é um predestinado a carregar adjetivos que tentam justificar o ofício?

Não acho não. Como você bem destacou, no final de sua pergunta, trata-se de um ofício. Não acredito em vocação, mas em trabalho, em teimosia, em dedicação, em respeito. Enquanto a sociedade tiver essa impressão de que a arte é um dom de poucos, o artista não será valorizado. Porque o sacerdócio sempre foi mal remunerado.

Qual o melhor aliado do escritor?

A curiosidade.

E qual o maior inimigo?

A falta de curiosidade.

Escrever é um ato político? Por qual motivo?

Sim. Qualquer tentativa de representação de uma realidade é um ato político.

Quais os aspectos que você leva em conta no momento que começa a escrever?

Acima de tudo a linguagem. Depois, se o que estou escrevendo merecerá ser lido. E, por fim, se eu realmente preciso elaborar aquilo.

A literatura existe para entendermos o começo, o meio ou fim?

Os três e nenhum. A literatura não existe por qualquer necessidade de compreensão. Ela simplesmente existe.

Se escreve para buscar respostas ou para estimular as dúvidas?

A boa literatura só acrescenta dúvidas. Mesmo qualquer certeza ou resposta que se encontre na ficção serve apenas para entregar cada vez mais dúvidas ao leitor e ao próprio escritor.

Criar é tatear no escuro das incertezas?

Sim. Não apenas tatear, mas imergir completamente.

Cite um trecho de alguma obra que te marcou profundamente.

Me marcou de forma definitiva a parte, no romance Lavoura Arcaica, em que a família está à mesa de jantar e é descrito um ritual ao mesmo tempo lírico e pesado de comunhão.

É possível recriar o silêncio com as palavras? Como?

Acho possível criar e recriar qualquer coisa com palavras, mas ainda não sei como.

Você acredita que qualquer pessoa pode escrever uma história? Mas, então, o que vai fazer dela escritora, de fato?

Sim, qualquer pessoa pode escrever uma história. Qualquer um que escreva uma história pode ser considerado um escritor. Não só uma história, aliás, mas qualquer texto. Agora, a escrita como profissão, aí há necessidade de outros requisitos. Ainda assim, qualquer um que queira, pode se tornar um escritor.

É preciso saber olhar o mundo com os olhos da ficção? O mundo fica melhor ou pior a partir dessa observação?

O mundo não ficará melhor ou pior com a ficção. O mundo não precisa e nunca precisará de ficção para ser o que é. Não acho que seja preciso olhar o mundo com olhos da ficção, acho que precisamos olhar o mundo com empatia.

Todo texto ficcional, mesmo os mais extensos, acaba sendo apenas um trecho ou fragmento da história geral? Digo, a ficção lança o seu olhar para as esquinas das situações, sendo praticamente impossível se ter uma noção do todo?

Sim e será sempre assim. A história geral é sempre mais ampla e inalcançável.

Nesse sentido, uma história nunca tem início, meio e fim?

A história que se quer contar pode ter início, meio e fim, embora nada disso seja importante.

Você escolhe os seus temas ou é escolhido por eles?

Sempre escolho os meus temas.

É necessário buscar formas de expressão cada vez menos sujeitas ao cânone, desafiando a língua, tornando-a mais “suja”, para se aproximar cada vez mais da verossimilhança que a história pede? Ou seja, escrever cada vez “pior”, longe da superficialidade de escrever “certinho”, como disse Cortázar, talvez na tentativa de fugir da armadilha do estilo único?

Acho que essa busca é sim necessária, mas não pela verossimilhança e sim por uma imposição da própria arte. Já o estilo, seja único ou diverso, será sempre uma tentação. Não considero uma escrita mais “suja”, entretanto, pior ou melhor do que qualquer outra. A arte exige transgressão.

Quando é que um escritor atinge a maturidade?

Nunca atinge.

O leitor torna-se cúmplice do escritor em qual momento?

No momento em que lê.

Apenas um livro para livrá-lo do fim do mundo em uma espaçonave. O seu livro inesquecível. Qual seria?

Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar.

Qual a sua angústia criadora?

Nunca conseguir escrever a obra perfeita, irretocável, que minha cabeça cria o tempo todo.

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